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ENSAIO 47: SALINGER

Atualizado: 3 de jan.



Se você está aqui pela primeira vez este ensaio faz parte de um livro sendo escrito em tempo real seguindo a narrativa do fluxo de consciência, se te interessar acompanhar o processo comece pelo primeiro.



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17/0/2024


SALINGER


Adolescentes são metáforas ambulantes.


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O trigo, além de estar no pão nosso de cada dia, também pertence à uma família muito bacana identificada como Poaceae, plantas da classe Liliopsida e subclasse Commelinidae, conhecidas popularmente como capins, gramas ou relvas.


Apesar de não terem pernas estão presentes em todas as partes, ambientes e épocas, muitas vezes o ano inteiro em formato de arbusto, árvore, bambu, erva ou trepadeira e correspondem a 20% da vegetação que cobre o planeta, incluindo regiões terrosas, úmidas e aquosas ou áridas como os pastos, mangues e cerrados.


Você conhece praticamente todo mundo desta família e vários primos devem estar na cozinha da sua casa neste exato momento de forma tão ou mais variada quanto encontrados na natureza como a aveia, o arroz, o milho, a cana-de-açúcar, a cevada e o centeio utilizado para fazer farinha, ração, cerveja, alguns tipos de whisky e grande parte das vodcas e claro, o pão de centeio. Muito tolerante e resistente com as mudanças de acidez e condições do terreno, o centeio é utilizado inclusive para proteger, manter e renovar o nível de nutrientes nas terras usadas em pasto de bovinos, a popular forragem do solo.


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Três histórias sobre amadurecimento e uma que soma todas elas.


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O conto "The Curious Case of Benjamin Button" (No Brasil: O Curioso Caso de Benjamin Button), do escritor norteamericano Francis Scott Fitzgerald, narra sobre um homem que envelhece ao contrário e foi publicado pela primeira vez na Collier's Magazine em 27 de maio de 1922, e depois incluído no livro "Contos da Era do Jazz".


A história foi posteriormente adaptada para o filme de mesmo nome pelo diretor David Fincher, que espertamente transformou um conto de apenas 30 páginas em um épico audiovisual de três horas.


O processo vital de Benjamin é idêntico ao nosso e assim como não podemos evitar envelhecer, adoecer e morrer ele não pode deixar de rejuvenescer e, inversamente, perder as suas capacidades físicas e mentais e então de fato morrer como uma criaça recém-nascida condenada a uma doença grave pós-parto. Ele não se recusa a crescer, ele não se recusa a envelhecer, ele não se recusa a amadurecer, ele já nasceu crescido, envelhecido e maduro, uma criança no corpo de um velho que se torna um velho no corpo de uma criança, é uma metáfora incrível.



Por sua vez o Peter Pan, personagem criado pelo romancista e dramaturgo escocês James Matthew Barrie, é um jovem de espírito livre e travesso capaz de voar e incapaz de crescer em sua infância interminável vivendo aventuras na Terra do Nunca (ou Ilha de Neverland) como o líder dos Garotos Perdidos, crianças órfãs que caíram de seus carrinhos de bebê e nunca foram procuradas (crianças que Peter Pan considera sua família) e interagindo com fadas, piratas, sereias, nativos americanos e eventualmente crianças comuns do mundo real.


A peça original "Peter Pan; or, the Boy Who Wouldn't Grow Up" (Peter Pan; ou, O Menino Que Não Queria Crescer), escrita e lançada em 1904, conta a história dos irmãos Darling (Wendy, John e Michael) que durante uma noite encontram e acompanham Peter em uma viagem mágica pelo céu noturno em direção à Terra do Nunca, onde a única forma de chegar é voando apenas através de pensamentos felizes.


Ao longo da história descobre-se que o vilão Capitão Gancho foi o primeiro garoto perdido da Terra do Nunca e se tornou o melhor amigo de Peter, até crescer e amadurecer e decidir um dia ir embora, deixando Peter com sentimentos de abandono, rejeição e ressentimento e servindo como uma representação simbólica do seu maior medo: se tornar adulto.



Já o documentário "Bownling for Columbine" (Tiros em Columbine) de 2002 não permite fantasiar nem metaforizar sobre nada e trata do impacto social após o massacre da Escola Secundária de Columbine em 1999, no Estado do Colorado nos Estados Unidos, quando dois alunos ainda adolescentes, Eric Harris e Dylan Klebold, invadriam a escola armados com pistolas, rifles, espingardas e bombas caseiras, matando 12 alunos e um professor e ferindo outras dezenas de pessoas, trocaram tiros com a polícia e se suicidando em seguida.

Em um determinado momento do documentário o próprio diretor e documentarista Michael Moore entrevista um adolescente que, após a repercussão do caso e compreensiva paranoia social, está em segundo lugar na lista da polícia local de jovens considerados possivelmente capazes de causar um atentado parecido num futuro breve.


O adolescente já tinha esta informação e se sentiu frustrado antes de tudo por não estar em primeiro lugar.


Em suas palavras:


- Neste país seria legal estar em primeiro lugar em alguma coisa.


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O adolescente não tem apenas o desejo de se destacar em algo, mas também de ser original e único, mesmo que por motivos negativos.


Por exemplo aos 13 anos de idade eu só tinha um par de tênis.

Cano alto, vermelho e preto.


Ia para o colégio com ele, chegava no almoço colocava ele no sol, andava de skate com ele de tarde, ia para o colégio no outro dia com ele.


Se tinha festa colocava ele nos pés e ia.

Se chovia, usava ele molhado no dia seguinte.

Eu não pensava muito sobre ele, apenas usava.


Provavelmente não combinava com nenhuma roupa ou ocasião e mais provavelmente ainda todos falavam sobre sem eu saber.


Quando começou o último semestre um colega de sala comprou um caderno novo e o meu tênis era a capa do caderno.


Ele disse sorrindo e apontando para mim e em voz alta:


- Olha o tênis que ele nunca tira do pé!!


Todo mundo riu e eu ri como se a piada fosse com outro, e quando cheguei em casa chorei a tarde toda.


Fui dormir pensando se talvez poderia ser uma notícia boa, as pessoas pensariam que meu tênis era único e original, assim como eu. No outro dia de manhã coloquei o mesmo tênis no pé, pois ainda era o único que eu tinha, e fui para a aula.


Chegando lá outro colega havia comprado outro tênis igual, e me disse que meu tênis era legal porque até na capa de caderno ele aparecia.


Em vez de ficar feliz eu senti ódio, agora o meu único tênis nem original era.


E o dele era novo.

E ele tinha mais de um.



Mas quando você se torna adulto com o tal de poder aquisitivo e com mais pares de tênis para usar, nem sempre a sua situação social melhora.


Por exemplo, uma vez um amigo me disse o quanto é estranho quando você olha uma pessoa pensando que ela tem 55 anos mas aparenta ter 45 anos, aí você pergunta a idade dela e ela diz: 45 anos.


E então você nao sabe mais se ela parece mesmo mais nova ou mais velha porque ela parecia ser alguém de 55 anos que parecia ser alguém de 45 anos, mas se alguém tem 45 anos e parece com alguém de 55 anos que parece ter 45 anos esta pessoa só pode ser uma pessoa que parece ser mais velha parecendo uma pessoa mais nova.


Eu passei a sentir na pele esta percepção quando decidi adotar o tênis All Star como parte do meu uniforme diário, não interesssa qual momento, evento ou encontro, eu vou de All Star.

E o olhar das pessoas te rejuvenesce ou envelhece automaticamente 10 anos, dependendo do humor ou da geração delas.


O meu humor é sempre o mesmo (se quiser chame de mood), mas se é trabalho vou de All Star pouco usado, se é encontro com amigos vou de All Star velho, se é show é a hora do All Star podre de velho, se é um encontro com uma mulher é All Star novinho em folha, 20% sujo para não parecer 100% inseguro e ela não se sentir 100% segura pensando que mereceu um All Star novo assim sem mais nem menos.


Mas não adianta o estado do seu All Star, o que muda a percepção das pessoas ao seu respeito é a passagem dos anos, e eu fiz até uma tabelinha para você entender:



Entre 10 e 20 anos: Jovem

Entre 20 e 30 anos: Jovem antenado

Entre 30 e 40 anos: Peter Pan

Entre 40 e 50 anos: Velho tarado

Entre 50 e 60 anos: Pedófilo

Entre 60 e 70 anos: Jovem antenado

Entre 70 e 80 anos: Benjamin Button



Usar versões coloridas potencializam cada uma das linhas da tabela, um All Star amarelo aos 20 anos de idade é o ápice do sex appeal, o mesmo tênis aos 50 é garantia de prisão perpétua, sem chance de condicional.





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Até eu ler "O Apanhador no Campo de Centeio" eu jamais imaginaria que seria possível ler a mente de um adolescente.


Se existe algo definidor da adolescência é a incapacidade de ler a própria mente e decifrar os próprios sentimentos e ao mesmo tempo se sentir blindado da leitura dos adultos e muito da raiva adolescente é justamente ser compreendido quando ele mesmo não se compreende, um sentimento confuso e frustrante, e muitas vezes humilhante. Afinal adultos estão sempre com aquele olhar de quem já passou por isto e o adolescente sempre com a certeza que a sua dor, confusão e raiva não só são únicas, mas de um tamanho nunca antes encontrado na natureza.


O enredo do romance de 1951 do escritor norteamericano Jerome David Salinger é direto, contando as experiências narradas em primeira pessoa de Holden Caufield na cidade de Nova York, aos 16 anos de idade, após sua quarta expulsão e saída de uma escola preparatória para uma faculdade de elite, um narrador agudo mas não necessariamente confiável e que expõe nas linhas a importância da lealdade, a falsidade da vida dos adultos e a sua própria duplicidade.


O livro ficou famoso pelo uso frequente de linguagem vulgar do personagem principal e também pela liberdade em citar referências sexuais, blasfêmias religiosas, desafio aos valores familiares e códigos morais, incentivo à rebelião e promoção de álcool, fumo, mentira, promiscuidade e abuso sexual.


Em uma entrevista de 1953 para um jornal do ensino médio, Salinger admitiu que o romance era um tanto autobiográfico, explicando:


- Minha infância foi muito parecida com a do menino do livro, e foi um grande alívio contar às pessoas sobre isso.


O romance foi um sucesso e dois meses após sua publicação já havia sido reimpresso oito vezes e ficando 30 semanas na lista dos mais vendidos do New York Times, fenômeno de popularidade que se repetiu ainda no fim da mesma década, mas não sem causar problemas e polêmicas. Por causa da considerada violência verbal do narrador e personagem principal, nas décadas seguintes vários professores do ensino médio dos Estados Unidos alegaram terem sido demitidos ou forçados a renunciar por indicarem e comentarem sobre o livro em sala de aula. Um estudo de 1979 observou que o livro era ao mesmo tempo o livro censurado com mais frequência em todo o país e o segundo romance mais ensinado nas escolas públicas norte-americanas depois de "Of Mice and Men" de John Steinbeck.


Após seu sucesso na década de 1950 Salinger recebeu e rejeitou inúmeras ofertas para adaptar o cinema, um interesse constante entre diretores e produtores como Billy Wilder, Harvey Weinstein, Steven Spielberg e até mesmo atores como Jerry Lewis, que chegou a tentar contato pessoalmente com o escritor. Salinger recusou todos repetidamente e em 1999 sua ex-amante Joyce Maynard concluiu:


- A única pessoa que poderia ter interpretado Holden Caulfield teria sido Salinger.


Na medida que a notoriedade do livro crescia Salinger gradualmente se retirou da vista do público e também começou a publicar com menos frequência, embora é sabido que por décadas até morrer em 2010 ele escreveu religiosamente todos os dias.


A noção de que este era um livro perigoso acabou encontrando em Mark David Chapman o seu símbolo, o homem que atirou e matou John Lennon em 08 de dezembro de 1980 era obcecado pelo livro, tão obcecado que segundos após atirar no cantor e compositor sentou na calçada e esperou a polícia lendo uma cópia do livro que havia comprado dias antes e onde escreveu na página de rosto "esta é minha declaração" e assinando "Holden Caulfield".


Três horas depois Chapman disse à polícia:


- Tenho certeza de que a maior parte de mim é Holden Caulfield, que é a pessoa principal do livro, a pequena parte de mim deve ser o Diabo.


Anos depois de preso, e ainda delirando, Chapman declarou em uma entrevista na cadeia que pretendia tornar-se Holden Caufield através da morte de John Lennon.


Felizmente o efeito das suas declarações foi renovar o interesse no livro e novos recordes de vendas, uma conta ainda permanente de centenas de milhares de cópias vendidas por ano e hoje somando um total de dez milhões traduzidas em dezenas de idiomas.



Tal como Benjamin Button, Holden Caufield não parece capaz de escolher entre envelhecer ou rejuvenescer e se você não tivesse esta informação já no começo do livro você não saberia dizer a sua idade, birrento como uma criança e rabugento como um idoso, e tal como Peter Pan possui um sentimento de medo que projeta em outras crianças por medo de salvar a si mesmo, e felizmente ao contrário dos adolescentes de "Bownling for Columbine" Holden optou por fazer da sua angústia objeto de luz, mesmo que ele nem mesmo perceba ainda.


Esta busca interna está escancarada na passagem mais bonita e significativa do livro, justificando o seu título para o leitor e com Holden contando seu desejo mais profundo:


“Seja lá como for, fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto – quer dizer, ninguém grande – a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer. Sei que é maluquice.”


Em outra passagem ele escancara também um desejo pessoal do escritor, provavelmente falando sobre o seu encontro e posteriores correspondências com o seu escritor favorito, Ernest Hemingway:


“Bom mesmo é o livro que quando a gente acaba de ler e fica querendo ser um grande amigo do autor, para se poder telefonar para ele toda vez que der vontade. Mas isso é raro de acontecer.”

Ou ainda uma visão muito pessoal sobre amadurecimento:


“O homem imaturo é aquele que quer morrer gloriosamente por uma causa. O homem maduro é aquele que contenta-se em viver humildemente por ela.”


E claro, sobre a Jornada do Herói:


“Esta queda para a qual você está caminhando é um tipo especial de queda, um tipo horrível. O homem que cai não consegue nem mesmo ouvir o baque do seu corpo no fundo. Apenas cai e cai. A coisa toda se aplica aos homens que, num momento ou outro de suas vidas, procuram alguma coisa que seu próprio meio não pode lhes proporcionar. Ou que pensavam que seu próprio meio não poderia lhes proporcionar. Por isso, abandonam a busca. Abandonam a busca antes de começá-la de verdade.”





O personagem Holden Caufield já era amigo antigo do escritor antes mesmo de começar a escrever este livro especificamente e já fazia parte de ensaios e uma peça planejada desde o inicio dos anos 40 e, como já falado, a melhor parte é saber que nunca haverá adaptação para o cinema e cada um de nós pode imaginar o Holden pessoal de cada um, o meu tem a minha cara adolescente, magro, nariz vermelho, muitas espinhas, verbalmente agressivo e com vontade de perder a virgindade.


Nada muito original no interior do Paraná, mas assim era eu.


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Entre os 15 e os 65 anos de idade nossa vida se resume a sermos julgados pelo par de tênis, maratonar séries ruins, tomar alguns pés na bunda e desferirmos* outros.


Até os 15 anos você é sob todos os efeitos uma criança, e após os 65 você se torna obrigatoriamente um idoso, então se você tem entre 15 e 65 anos de idade você tem uma dívida de responsabilidade e de respeito, responsabilidade com as crianças e os mais novos, e respeito com os idosos e os mais velhos.


E no meio você tem 50 anos para amadurecer, aprender a cuidar da saúde, escolher melhor as suas amizades e relações afetivas, não metralhar nenhum colégio, não matar o John Lennon e aprender a cozinhar. Inclusive o grande rito de passagem da adolescência para a vida adulta na minha opinião é aprender a fazer arroz soltinho, fiquei tão feliz quando acertei pela primeira vez que me imaginei convidando a galera para um arrozaço, cada um traria a sua carne e a sua bebida e o arroz seria por minha conta.


Mas aí lembrei que gosto de cozinhar para duas ou três pessoas e enquanto cozinho costumo falar sobre o prato ou cinema e ouvir música e a melhor parte é olhar para os lados depois de pronto e perceber que estou falando sozinho e vou comer toda aquela comida em dois dias sem convidar ninguém. Se existe um ingrediente que combina com todos os pratos na minha casa, é a misantropia.


Misantropia que talvez seja um escudo de defesa, por muitos anos da minha vida as pessoas costumavam dizer que eu tenho cara desses malucos que entram em uma sala de aula e matam todo mundo e também ouvi bastante (e até hoje ouço) que eu deveria opinar sobre este ou aquele assunto, seja lá qual for o assunto do momento.


Ouvir este tipo de coisa sempre me machucou até um dia perceber que na verdade as pessoas falam sobre os outros o que habita no coração delas, e querem ouvir de terceiros o que elas mesmas pensam mas não possuem coragem de falar.


Benjamin Button, Peter Pan e Holden Caufield são especiais por antes de tudo não projetarem em ninguém. Eu nasci velho e vou morrer criança, o que me coloca na vergonhosa posição de adolescente em tempo integral como se diz na cultura popular, Complexo de Benjiamin Button, Síndrome de Peter Pan ou (inventei agora) Transtorno de Holden Caufield.


Hoje não me parecem ser os piores apelidos, e se eu te encontrar na beira de um campo de centeio, talvez eu te empurre, talvez não.





Vou continuar falando apenas o que está no meu coração e metralhando palavras sem tirar os dedos do teclado, toda jornada é uma jornada, Ulysses sabe bem.


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*Eu sempre quis usar o verbo desferir em um texto meu.


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Cápsulas do tempo.


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No dia 14 de dezembro de 2023 fez 15 anos que o jornalista Muntazer al Zaidi jogou um par de sapatos na direção do George Bush, pena que não acertou, a pontaria dele foi ótima, duas vezes seguidas, mas o Bush filho é definitivamente bom de esquiva.


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No dia 21 de dezembro fez 55 anos da primeira fotografia tirada por humanos enquadrando toda a Terra vista do espaço, pela tripulação da Apollo 8 (provavelmente o astronauta Bill Anders) a uma distância de cerca de 30.000 km.


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Valentina Bailey, uma menina britânica de nove anos de idade, está fazendo sucesso nas redes sociais porque está aprendendo português e até aí nada demais, o diferencial é que ela está aprendendo com a sua mãe, brasileira do interior de Minas Gerais e sabe como é, accent britânico e sotaque mineiro é train bão demais.


O mundo não precisa de mais nada, o novo humano britânico-mineiro é tudo o que precisamos para o mundo entrar nos eixos novamente, a nova globalização terá chá com leite e pão de queijo para todo o sempre.


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De tanto tocar no assunto fiz aquela varredura musical na discografia do Nirvana, do Fugazi e então L7, banda que nunca prestei muita atenção. Pois bem, estou ouvindo direto, como se fosse uma banda nova da geração Spotify, divertidíssimas, nada muito original mas embala muito bem o seu fim de tarde ou viagem de carro.


Rock não é sobre originalidade mas sobre personalidade, isto elas têm de sobra e eu é que não vou falar mal delas, não quero absorvente usado jogado na minha cara, não sou nenhum Rei Charles.


E todo esse papo de adolescência fez renascer a vontade de ouvir músicas da época e fui pesquisar um disco do Suicidal Tendencies, e fui bloqueado pelo YouTube com o seguinte recado:


"Você não está só.


Se você ou uma pessoa que você conhece está passando por um momento difícil, fale com alguém hoje.


Centro de Valorização da Vida


Ligar 188"


Eu quero estar só e ouvir Suicidal Tendencies, qual o problema gente, minha única tendência é lembrar aleatoriamente de riffs do Suicidal Tendencies.


Assim como Pantera e Olodum, Suicidal Tendencies tem swing, swing maneiro, suicídio maneiro.


E se por acaso eu estivesse procurando ajuda no YouTube pô?


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Por falar em (des)valorização da vida eu tive uma recaída, achei uma promoção de Panetone Bauducco de um quilo por 37 reais cada. Não sei se realmente estava barato mas hoje em dia qualquer coisa de um quilo custando abaixo de 50 reais é barato então fingi ser CNPJ com CLT para agradar e comprei dez de uma vez só, tenho dez quilos de panetone até março esperando serem atacados de todas as formas, com manteiga ou com mel ou com ambos, com Nescau ou café ou Coca-Cola, se Bauducco for doença eu quero morrer de bauduccose.


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O último relatório do Instituto do Meio Ambiente considerou a Praia Central de Balneário Camboriú 100% imprópria para banho pela terceira semana seguida.


Na Barra Sul, na altura da Rua 4900 foram detectados 14.136 bactérias Escherichia coli em 100 mililitros, quase vinte vezes o limite aceitável que são 800 bactérias.


E isto em uma cidade onde (de acordo com os dados do governo) 98% do município tem coleta de rede de esgoto, o maior índice do Estado de Santa Catarina.


O governo não te conta mas eu conto: coleta é uma coisa, tratamento é outra.


Balneário Camboriú também tem o espaço imobiliário mais caro do país atualmente, uma média de 12 mil reais por metro quadrado ou seja, um apartamento minimamente funcional com 80 metros quadrados custa cerca de um milhão de reais, fora a mobília e o soro para aguentar e recuperar a desinteria e desidratação depois você tomar água da torneira.


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Mas calma, os vereadores da mesma Balneário Camboriú aprovaram uma lei para multar usuários de drogas da cidade e aplicará uma multa prevista de R$ 412 para quem for flagrado utilizando, transportando ou guardando drogas proibidas por lei, mesmo para uso pessoal.


Imagina pagar um milhão para morar em uma kitinete, não poder fumar um baseado e nem tomar banho de mar.


De resto você já sabe, este dinheiro vai para um ralo totalmente diferente ao da coleta de esgoto da cidade.


A Dubai Brasileira de agora em diante é Adubai Brasileira.


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No dia 15 de janeiro de 2024 Martin Luther King Jr. faria 95 anos de idade.


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