ENSAIO 91: OZZY OSBOURNE
- LFMontag

- há 1 dia
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Foto: Montag
Se você está aqui pela primeira vez este ensaio faz parte de um livro sendo escrito em tempo real seguindo a narrativa do fluxo de consciência, se te interessar acompanhar o processo comece pelo primeiro.
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03/12/2025
OZZY OSBOURNE
Não é sobre morcegos.
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Well, I don't want no Jesus freak to tell me what it's all about
No black magician telling me to cast my soul out
Don't believe in violence, I don't even believe in peace
I've opened the door, now my mind's been released
Well, I don't want no preacher telling me about the god in the sky
No, I don't want no one to tell me where I'm gonna go when I die
I wanna live my life, I don't want people telling me what to do
I just believe in myself, 'cause no one else is true
Every day just comes and goes, life is one long overdose
People try to rule the nation, I just see through their frustration
People hiding their real face and keep on running their rat race
Behind each flower there grows a weed, in their world of make-believe
So believe what I tell you, it's the only way you'll find in the end
Just believe in yourself, you know you really shouldn't have to pretend
Don't let those empty people try and interfere with your mind
Just live your life and leave them all behind
- Black Sabbath, Under the Sun.
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O Ozzy você conhece, todo mundo conhece o Ozzy, mordeu morcego sem querer, mordeu pombo querendo, cheirou formiga sem saber se queria, viveu como poucos e cantou como ninguém, agitou tanto quanto e ele não teve culpa nenhuma quando nós decidimos subir no terraço do prédio do Charles em pleno inverno com um toca-fitas, dois copos, uma faca e uma galinha.
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[SOMENTE LIVRO]
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[SOMENTE LIVRO]
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Ao contrário dos espinhosos ouriços e dos fingidos gambás, os morcegos são os únicos mamíferos capazes de voar ativamente, graças às suas asas formadas por uma membrana fina que estende entre os dedos altamente alongados.
Sim, as asas deles são as mãos, pensa num bicho charmoso.
São mais de 1400 espécies pelo mundo e praticamente todas sabem caçar no escuro e comer mais frutas que você, além de insetos, mel, carne de animais menores como ratos e sapos e claro, sangue de outros animais.
São polinizadores como as abelhas, dispersores de sementes como os pássaros e controladores populacionais como lobos e ursos e qualquer animal de topo de cadeia alimentar.
Dormem de ponta-cabeça e quando acordam saem voando felizes e talvez por isso algumas espécies chegam a viver até 30 anos de idade, seus ouvidos são verdadeiros radares capazes de identificar e desviar velozmente obstáculos tão finos quanto fios de cabelo (ou teias de aranha) e, apesar da mitologia urbana e da má fama, a maioria das espécies é completamente inofensiva e evita contato com humanos, e mesmo assim ecossistemas inteiros como florestas e até culturas agrícolas dependem da sua atuação para se manterem equilibrados.
Apesar do senso comum várias culturas, religiões e mitologias ao redor do mundo dão significado simbólico aos morcegos, e algumas chegam a cultuá-los de forma direta ou indireta.
Na China por exemplo, os morcegos são símbolos de sorte e felicidade há séculos, a palavra morcego em chinês (fú) tem o mesmo som de “boa sorte” e por isso aparecem em artes, roupas, talismãs e portas de casas como amuletos de prosperidade; no feng shui e no taoismo popular, cinco morcegos juntos representam as “cinco felicidades”: saúde, longevidade, riqueza, virtude e morte pacífica.
No xamanismo dos povos nativos das Américas o morcego aparece como símbolo de renascimento, intuição e entrada no mundo espiritual e em algumas tradições mesoamericanas há divindades com forma de morcego, como Camazotz entre os maias e povos da região, associado à noite, cavernas e fronteira entre vida e morte, não como um deus benevolente, mas uma entidade ritual importante.
Em partes da África Ocidental algumas religiões tradicionais atribuem aos morcegos papéis de mensageiros espirituais ou guardiões entre mundos e entre povos da Nova Guiné e das Ilhas do Pacífico, o morcego-raposa aparece em mitos de criação como ancestral ou herói cultural.

Por outro lado, no ocidente medieval cristão, os morcegos passaram a ser associados ao mal, à escuridão e a demônios por um simbolismo moral torto e assustador que, como veremos mais adiante, talvez seja apenas um espelho.
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As pessoas dizem que a Sagrada Escritura é a palavra de Deus, que ensina aos homens a verdadeira beatitude ou o caminho da salvação. Na prática, porém, o que se verifica é completamente Diferente.
Na verdade, não há nada com que as pessoas pareçam se preocupar menos do que em viver segundo os ensinamentos da Sagrada Escritura. Basta ver como quase todos mascaram como palavra de Deus as suas próprias intenções.
Não fazem outra coisa senão, a pretexto da religião, coagir os outros para que pensem como eles.
Quem escreveu essas palavras foi o filósofo holandês Bento de Espinosa, em pleno século XVII num tempo em que de fato a perseguição religiosa, a intolerância à diferença, às religiões e às diferentes filosofias de uma maneira geral, era garantia de prisão, execução, ou exílio, e quase sempre precedido de tortura.
Além das guerras religiosas que aconteciam no seu tempo, Espinosa via essa realidade como algo profundamente ligado à maneira como as pessoas justificavam seus atos e usando a religião como escudo para impor suas visões, como se fossem ordens divinas, e cuja autoridade bíblica era frequentemente manipulada para defender interesses particulares.
Para Espinosa, essa distorção do sentido sagrado das escrituras era um problema não só filosófico mas também político e social; na sua opinião a verdadeira espiritualidade exigia liberdade de pensamento e interpretação e, enquanto as pessoas usassem a religião como ferramenta de controle e dominação, a paz e a convivência estariam sempre ameaçadas.
Bento de Espinosa nasceu em 1632 numa família de judeus sefarditas portugueses que fugiram da Inquisição e é um dos pensadores mais importantes da história da filosofia ocidental, especialmente no racionalismo moderno, conhecido por radicalizar a ideia de razão, questionando profundamente a religião tradicional, as autoridades religiosas e as ideias comuns sobre deus e o mundo, sendo por estes motivos excomungado da comunidade judaica aos 23 anos e também rejeitado pelos cristãos.
O "Deus de Espinosa" é uma ideia bem diferente do deus pessoal das religiões monoteístas, para ele deus não é um ser separado do mundo que criou tudo e fica lá fora, observando ou intervindo mas sim a própria natureza e tudo o que existe (o universo, as leis naturais, os pensamentos, os corpos) é uma expressão de deus e tudo está contido nele.
Então para Espinosa não faz sentido orar pedindo milagres, porque deus não intervém; não é um agente com vontades humanas mas a realidade total e conhecer o mundo com clareza, por meio da razão e da ciência, é a melhor forma de se aproximar de Deus.
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Toda cultura, social, política e religiosa, tem o seu fim: existe o nascimento, a primeira expansão, a perseguição, a imposição, a segunda expansão e então a degradação; tudo isso já está dentro dessa cultura em seu nascimento.
O maniqueísmo é uma doutrina religiosa e filosófica criada no século III d.C. pelo profeta Mani (ou Manés) na região da Pérsia (atual Irã), ela propõe uma explicação dualista do mundo, ou seja, baseada na luta eterna entre dois princípios opostos: o Bem (luz) e o Mal (trevas).
Mani viveu numa época em que várias religiões estavam circulando e se misturando na região da Pérsia e Mesopotâmia, criado dentro de um grupo chamado Elquesaítas, uma seita judaico-cristã gnóstica com acesso a textos cristãos, evangelhos apócrifos e conceitos como o de Cristo como figura espiritual e redenção por meio do conhecimento.
O maniqueísmo combinava elementos do zoroastrismo, do cristianismo primitivo, do budismo e de tradições gnósticas, estruturando tudo a partir de uma visão dualista radical na qual o universo é o palco da luta entre dois princípios eternos, independentes e opostos e se expandiu do Oriente Médio até o norte da África, Europa e Ásia Central, tornando-se uma das maiores religiões do mundo antes de ser perseguida e praticamente desaparecer como instituição organizada.
O próprio Mani se apresentava como o último profeta de uma linhagem que incluiria figuras como Zoroastro, Buda e Jesus e a forma como o movimento se estruturou incluía membros leigos e uma elite de ascetas extremamente rigorosos, conhecidos como Os Eleitos, responsáveis (egocentricamente diria eu) por preservar a pureza da luz aprisionada no mundo.
A convivência e confronto intelectual com o cristianismo marcaram profundamente a formação de sua doutrina e, apesar da rejeição teológica da sua filosofia pelos cristãos do período, hoje é parte essencial do cristianismo, incapaz de, como qualquer cultura chegando no fim, não enxerga mais a ruína em si mesmo.
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[SOMENTE LIVRO]
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Em 1993 três meninos de oito anos desapareceram em West Memphis, Arkansas; no dia seguinte, seus corpos mutilados foram encontrados em um canal de drenagem.
No ano seguinte três adolescentes locais foram presos e considerados culpados por seus assassinatos, embora inúmeras alegações de corrupção e má condução das investigações tenham marcado o caso; as evidências eram consideradas frágeis, na melhor das hipóteses, enquanto a polícia foi acusada de intimidar testemunhas e vazar depoimentos para a imprensa, a fim de inflamar a suspeita pública de que os crimes poderiam ter natureza satânica.
Apesar disso, os três adolescentes, conhecidos como os “West Memphis Three”, receberam penas severas: um deles foi condenado à morte e os outros dois à prisão perpétua, gerando um grande clamor público nos anos seguintes com campanhas de arrecadação e ações midiáticas para reabrir o julgamento, à medida que testemunhas retratavam seus depoimentos e novas evidências vinham à tona.
Eventualmente em 2010 surgiu a oportunidade para que os três aceitassem um acordo judicial, entrando com um Alford Plea em troca do tempo já cumprido e após 18 anos na prisão todos foram finalmente libertados em 2011.
Mas um detalhe nessa investigação passou desapercebido.
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[SOMENTE LIVRO]
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[SOMENTE LIVRO]
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[SOMENTE LIVRO]
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[SOMENTE LIVRO]
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Mas se Ozzy morreu por nós, o que dizer daquele que prometeu, e não cumpriu.
E ele tem mais a ver com você muito além da sua capacidade de admitir isso.
Chega a ser uma obliviedade.
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Cápsulas coincidentes e listradas do tempo.
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Não foi intencional, mas o Ozzy faria 77 anos hoje.
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As três listras que consagraram a Adidas como marca global ganharam outro significado em Salvador e tornaram-se um risco de vida, na Pituba, bairro da capital baiana, o símbolo é associado ao Bonde do Maluco (BDM), grupo criminoso que domina a região.
Um comerciante contou que foi abordado na Rua Pará, na última semana, por usar uma camisa da marca, quando o bandido disse:
- Aí é três e aqui nós somos dois, cuidado.
A referência ao “dois” é ligada ao Comando Vermelho (CV), facção que atua no Nordeste de Amaralina, área vizinha com acesso também pela Rua Pará.
Antes do natal vai surgir a Gangue da North Face.
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