Foto: Ayrton Cruz
Se você está aqui pela primeira vez este ensaio faz parte de um livro sendo escrito em tempo real seguindo a narrativa do fluxo de consciência, se te interessar acompanhar o processo comece pelo primeiro.
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27/03/202
IDOS DE MARÇO
O tema parece ser sobre facada nas costas, mas é sobre garfadas em um strudel.
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No filme Bastardos Inglórios de 2009 o personagem Coronel Hans Landa pede para a proprietária do Le Gamaar Cinema, Shosanna Dreyfus, esperar o creme antes de dar uma garfada em um strudel para testar se ela é judia.
A alimentação Kosher (que significa "adequado" ou "correto" na língua iidiche), também conhecida como Kasher, segue as regras descritas no Torá e de acordo com estas pode-se comer animais ruminantes como vaca, ovelha, cabra e veado mas não coelhos, porcos e roedores, considerados impuros.
Também são permitidas aves como o frango, pato, ganso e peru mas répteis, insetos, vermes e anfíbios são proibidos. Nunca se deve ingerir sangue e os utensílios utilizados no preparo de carnes, leite e seus derivados devem ser separados e todos os vegetais podem ser consumidos.
Como durante a segunda guerra os pastéis eram feitos com banha animal, Shosanna não teria como saber se o preparo havia sido feito respeitando o Kosher e o strudel teria sido feito com gordura provavelmente de porco.
Mas, se você assistiu e lembra bem do filme, a personagem não só tenta comer antes mas também dá uma garfada no strudel com o creme e embora isso possa por um momento aliviar a tensão do coronel (e a nossa) com a origem dela, é fato que comer algo não-kosher não fere nenhuma lei judaica se a situação exigir que você faça isso para proteger a sua vida, como é o caso.
Num sinal de que está satisfeito e também de desprezo e arrogância o coronel então acende um cigarro e logo depois apaga no resto de creme do prato.
Esta passagem me lembrou quando anos antes em São Paulo uma vez dentro de uma padaria algo me chamou a atenção e olhei para o braço de um senhor sem querer e meus olhos se fixaram nela, uma tatuagem de um número longo mas já borrada e quase apagada.
Quando me dei conta do que era ou parecia ser ele já estava me olhando e quando os meus olhos encontraram os dele, ele sorriu.
Eu sorri também e então ele encostou o dedo indicador na tatuagem e disse com sotaque:
- Uns alemães feios igual você tatuaram isso em mim uma vez.
Comecei a rir, e ele continuou:
- Acho que era a minha data de validade, ou eu estou muito passado ou eles estavam errados.
Gargalhei.
Ele apenas sorriu orgulhoso.
É, acho que eles estavam errados.
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O mês de março é marcado pelo fim do inverno no hemisfério norte e do verão aqui no hemisfério sul entre os dias 20 e 21 e especialmente em Florianópolis, quando o turismo acaba mas ainda é quente o suficiente para pegar uma praia, comer um camarão e passear relativamente sem trânsito, mês que também marca no Brasil o início do ano na famosa piada com fundo de verdade, de que o ano só começa depois do carnaval.
Mas um pouco (muito) antes desta data os Idos de Março marcam o grande evento do ano 44 Antes de Cristo, o Assassinato de Júlio César, ditador da República Romana esfaqueado até a morte por Marco Júnio Bruto, Caio Cássio Longino e vários outros senadores romanos incluindo umn de seus herdeiros, Décimo Júnio Bruto Albino, motivo pelo qual César ficou chocado quando o viu entre aqueles que o atacavam, episódio então conhecido pela famosíssima frase:
“Até tu, Brutus?".
Os romanos não contavam do primeiro ao último dia de cada mês mas a partir de três pontos fixos do mês: os Nones (sendo o quinto ou sétimo dia do mês, nove dias antes dos Idos), os Idos (o décimo terceiro dia na maioria dos meses, mas o décimo quinto nos meses de março, maio, julho e outubro), e as Calendas (o primeiro dia do mês seguinte).
Estes Idos de Março também representam muitas outras passagens muito significativas e curiosas da história da humanidade, incluindo a do nosso Brasil, por exemplo:
1493 - Cristóvão Colombo retorna à Espanha depois de sua primeira viagem às Américas.
1917 - O Imperador Nicolau II da Rússia abdica em seu nome e de sua descendência do trono da Rússia e seu irmão, o grão-duque Michael Alexandrovich, é escolhido, que recusa assumir o trono e coloca um fim nos 300 anos da Casa Romanov.
1939 - Tropas nazistas ocupam o que restava da Boêmia e da Morávia antes ainda do início da Segunda Guerra Mundial. A Checoslováquia deixa de existir pela primeira vez.
1967 - A "República dos Estados Unidos do Brasil" passa a ser denominada "República Federativa do Brasil".
1985 - José Sarney se torna o primeiro presidente civil do Brasil após 21 anos de regime militar, assumindo o cargo depois que o presidente eleito Tancredo Neves ficou seriamente doente no dia anterior.
1998 - Morte do Tim Maia, cantor e compositor brasileiro, cantor que nunca deixou de dar motivos para a sua saúde ir embora.
2015 - Manifestações contra a presidente Dilma Roussef ocorrem em 160 cidades, com 3 000 000 de participantes.
Mas um pouco (muito) antes destas datas e um pouco (pouco mesmo) depois os Idos de Março também marcam os eventos que culminaram na Paixão de Cristo.
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A Sexta-Feira Santa ou Sexta-Feira da Paixão é a sexta-feira antes do Domingo de Páscoa e a data em que os cristãos lembram o julgamento, paixão, crucificação, morte e sepultura de Jesus Cristo, através de diversos ritos e eventos religiosos.
Quando você analisa o contexto histórico-religioso do período a morte de Jesus foi anunciada praticamente no dia do seu nascimento.
No Ano 0 os romanos mandavam no pedaço.
Os judeus também.
Os chineses mandavam também, um pouco mais à esquerda e os maias mandavam no lado de cá.
Pelo jeito todo mundo mandava no mundo no Ano 0, mandavam tanto a ponto de ninguém achar estar vivendo no Ano 0. Cada povo tinha o seu calendário, o seu time de futebol, a sua roupa oficial e comida típica.
Ninguém notou algo especial acontecendo e só foram se dar conta do fato uns trinta anos depois quando apareceu um camarada (sumido desde os 10 anos de idade e que não ligava mais para a própria mãe) dizendo por aí ter sido enviado para este mundo no tal Ano 0 para botar ordem na casa.
Com os cabelos fora de corte e usando roupas de hospital disse ainda que Deus, seu pai, o mandou pessoalmente e que o Ano 0 iria se chamar Ano 0 porque foi quando ele nasceu.
Ah, e ele seria Ele a partir daquela data.
Este excesso de autoestima acabou chamando a atenção.
A mãe Dele que por sinal era virgem disse não saber de nada, o padrasto não opinava na criação do moleque e sempre desconfiou das voltinhas no deserto do afilhado.
Aquela barba, aquele papo mole e a atitude insolente acabaram tornando-o uma estrela, um John Lennon da época, mais pobre e mais corajoso e depois Dele não se falava de mais nada: fazia milagres, curava doenças, assava pão como ninguém, dividia como menos gente ainda e até o seu festival de sushi era de graça e servia umas duas mil pessoas.
Por causa de todo este bafafá em torno Dele e do seu Pai ninguém mais fez sucesso naqueles anos, podia mandar cortar cabeça, apedrejar, jogar aos leões...
Simplesmente nada adiantava, a maior turnê era sempre a Dele, se não tinha sermão, comida de graça e milagres não tinha graça e por isto o Coliseu Romano começou a ficar vazio.
Para quem não sabe, o Coliseu era uma espécie de Maracanã ou Morumbi daqueles tempos, sem luz elétrica e matança de todos os tipos ao invés de futebol, embora no futebol a matança é diversão na plateia.
Os Romanos eram bons só na bordoada e e tiveram de aprender a discursar e os Judeus que antes só falavam da vinda do Messias, se fizeram de desentendidos.
E olha que antes Dele o povo do Velho Testamento já fazia de tudo para chamar a atenção, teve quem matou o próprio irmão, quem mandou o mar se abrir, quem construiu um cruzeiro marítimo só para si mesmo e até teve quem dormia dentro de uma baleia.
E assim o que foi o Ano 0 para Ele acabou sendo o ocaso para muita gente, não foi exatamente o fim do mundo mas muito falso profeta ficou sem emprego no período, ou entrava para a banda dele ou tinha de se virar em banda de formatura.
E Ele tinha 12 músicos no palco sendo que o baterista, Judas, volta e meia saía do compasso, só se cantavam as músicas Dele e por causa disso até hoje volta e meia alguma filha de judeu foge de casa para casar com algum hippie e foi tão famoso que até os dias de hoje tudo se diz ser Antes Dele e Depois Dele.
Seu único defeito era ser um péssimo boxeador: acertavam-lhe o rosto e ele oferecia a outra face.
Com o passar do tempo os romanos, os judeus e todo o mundo que mandava nas oliveiras não gostaram da ascensão meteórica do filho único e o executaram e a execução foi obviamente um show, com direito a trovoada, ventania e chuva relâmpago.
Teria sido capa das primeiras edições da Vogue e da Time Magazine se estas já existissem, a fofoca sobre sua morte correu o mundo e fontes confiáveis apontavam o próprio pai como mandante do crime, a expectativa paterna às vezes pode ser quase sobrenatural mesmo e não é sem motivo que muitos fiéis se referem ao Criador como “O Poderoso Chefão”.
Morreu jovem, Jimi, Janis, Jim and Jesus, Rock and Roll.
Três dias depois ressuscitou, deu um beijo na testa da coroa e sumiu de novo, prometendo obviamente voltar mas só quando fosse de fato o fim do mundo, entrando definitivamente para a história.
Mesmo que você não acredite Nele agradeça, graças a Ele e a sua turma não falta feriado neste país e se tem uma coisa que brasileiro gosta, e brasileiro do interior ama, é feriado com desculpa religiosa.
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Cidades do interior possuem várias mini-cidades dentro delas, principalmente no sul do Brasil, e a minha não era diferente.
Quanto mais imigrantes mais panelinhas sociais existirão: o bairro dos bugres, a quadra dos protestantes, onde moram os italianos, a vila dos ucranianos, a cidadezinha dos polacos, as casas dos bucovinos.
Toda cidade do sul do Brasil parece imitar a geopolítica da Europa dos séculos XIX e XX e a balança comercial parece se resumir a tudo o que possa ser feito com água, sal, açúcar, ovos e farinha e tudo o que se tira da terra e pode ser colocado em vidros de conserva.
Proibida de ser o que era e de ver a si mesma como era, só restou para a minha avó despersonalizar o mundo ao redor e ver todos como todos pareciam apenas ser: os bugres, protestantes, os italianos, os ucranianos, os polacos, os bucovinos... e os católicos
Minha vó tinha uma visão bem clara sobre os ucranianos e ambos viviam uma espécie de trégua não assinada sobre uma guerra nunca deflagrada e baseada em uma simples relação comercial: minha avó fazia pães para eles, nós ganhávamos bolachinhas em troca.
Dizia ela:
- Os ucraniano são tudo chorão mas as bolachinha são boas.
Nunca vi um ucraniano chorando e a vila deles me parecia sempre ser natal, roupas coloridas, casas decoradas, cheiro de canela e bolacha manteiga.
E assim a lista da minha avó seguia: os bugres são fedidos, os protestantes são fofoqueiros, os italianos são briguentos, os ucranianos chorões, os polacos são mão-de-vaca, os bucovinos não querem papo e os católicos, ah os católicos.
A minha avó era um tanque de guerra de xingamentos, e através do visor de lentes grossas dela geralmente todo mundo era cinza e sem rosto em uma atitude de atacar primeiro para não precisar se defender depois, e por isto ela desenvolveu uma birra especial com os católicos a qual compartilho até os dias de hoje, e do radar (e principalmente, da artilharia) dela não escapava nenhum.
Até crescer e entender os cristãos de maneira geral me divertiam bastante, se Cristo nascia eu ganhava presente, se ele morria eu ganhava chocolate, bolacha ou rabanada e li bastante a Bíblia quando era pequeno, não exatamente a original mas as versões para crianças, com desenhos e balões e reviravoltas de enredo da mesma forma igual os quadrinhos da Disney e Turma da Mônica que também lia com igual doses de interesse e divertimento.
Mas a minha avó abaixava todas as armas dela quando os católicos faziam festa e o strudel entrava na linha de frente, católicos mandam bem no strudel e strudel é cocaína de velha do interior, e a minha avó não era exceção.
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O strudel é um tipo de massa em camadas com recheio geralmente doce, mas recheios salgados também são comuns, e tornou-se popular no Século 18 em todo o Império Habsburgo fazendo parte da culinária austríaca mas também comum em outras cozinhas da Europa Central
Na Itália é reconhecido como um produto agroalimentar tradicional da região do sul do Tirol e você encontra strudel virtualmente em qualquer país europeu.
A palavra é derivada da palavra alemã "strudel" e significa literalmente "redemoinho" e como qualquer palavra alemã com mais de duas sílabas a cuspida se torna obrigatória na pronúncia de "apfelstrudel", conhecida no inglês como "apple strudel", o popular e maravilhoso strudel de maçã, cuja massa fina é colocada sobre um pano de prato e o recheio é espalhado sobre ele e depois enrolada cuidadosamente com a ajuda do pano e então assada no forno.
O strudel une os bugres, protestantes, italianos, ucranianos, polacos, bucovinos e os católicos e em geral também é associado à culinária judaica ashkenazi, particularmente de judeus ashkenazi alemães, suíços e austríacos.
As versões doces costumam levar gengibre, canela, açúcar de confeiteiro e noz moscada na receita e as versões salgadas podem levar recheio de carne, carne moída, queijo e presunto temperados com alecrim, orégano e até manjericão.
Mas como nós fomos expulsos do paraíso há algumas almas torturadas que fazem strudel salgado com repolho refogado ou caramelizado com cebola fatiada e sementes de alcaravia às vezes com adição de açúcar, algo capaz de me fazer declarar guerra santa de pelo menos cem anos contra quem fosse corajoso de me oferecer algo do tipo.
Daqui a pouco vão fazer sushi de strudel ou strudel de sushi como mais uma prova de que a globalização deve ser combatida.
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No maravilhoso livro "De Bagdá, com Muito Amor" o Tenente-Coronel norteamericano Jay Kopelman conta como a sua vida mudou durante a Guerra do Iraque que se iniciou em 20 de Março de 2003, quando o seu grupo de fuzileiros entra em uma casa abandonada na cidade de Faluja e encontram um cachorrinho que ficou para trás depois da maior parte da população fugir para escapar dos bombardeios.
Apesar dos regulamentos militares proibirem animais de estimação os fuzileiros tiram as pulgas do filhote com querosene, eliminam os vermes com fumo de mascar e o alimentam com ração militar e fazem uma operação especial secreta para ilegalmente resgatar e levar o cãozinho para os Estados Unidos.
Sim, o resgate é um sucesso, o cachorro recebe o nome de Lava e uma vida nova longe do seu país natal e, como só os cães sabem fazer, salva a vida do tenente-coronel da devastação emocional causada pela guerra.
Ao longo das páginas do livro Jay Kopelman solta algumas informações impressionantes e opiniões muito lúcidas sobre a natureza da guerra e como a tecnologia piorou o que em tese deveria melhorar.
Dentro da doutrina MAD existe um irônico paradoxo, a paz está garantida pelo igual pontencial de destruição de exércitos adversários mas se um único armamento for usado uma única vez, o número de mortos é proporcionalmente muito maior que em muitas batalhas das guerras anteriores, incluindo civis inocentes.
Para exemplifcar isto, Jay Kopelman faz uma comparação da diferença entre as duas fases da Primeira Guerra Mundial, a primeira em sua maioria no combate corpo-a-corpo e a segunda com a entrada dos aviões monomotores e dos tanques de guerra, no primeiro caso o embate era evitado e mesmo quando acontecia soldados voltavam vivos para casa, no segundo caso destacamentos e batalhões inteiros eram destruídos, bem como vilas e cidades e vidas de homens, idosos, mulheres e crianças causando as famosas mortes sem rosto nem nome e comemorada ou lamentada em números.
Em outras palavras entre teoria e prática o poder de intimidação é ao mesmo tempo pacificador e destruidor em iguais proporções potenciais e o maior exemplo sempre vai ser o tanque de guerra, cujas intenção inicial era a de encerrar a guerra apenas pelo pavor do seu surgimento no campo de batalha, e cujo o resultado foi o oposto.
E quando estas guerras são travadas em países onde o ocidente (nós) não se importa, nem mesmo os soldados se dão conta de como e porquê estão agindo e Jay Kopelman também cita a modificação do interior dos tanques de guerra para receber soldados cada vez mais jovens olhando para um visor cada vez mais parecido com a tela de um jogo de computador como se fosse um típico atirador em primeira pessoa tão adorado por adolescentes.
Mesmo com tecnologia o suficiente para instalar câmeras capazes até mesmo de mostrar detalhes o rosto e a patente do soldado inimigo e diferenciá-los dos civis, os engenheiros militares optaram por criar sinalizações de alvos que regrediram de formatos em alto contraste para apenas cruzes se movimentando, como se fossem meros sinais de localização em um radar, em um nível onde não é mais possível nem ao menos diferenciar se o alvo é um adulto ou criança ou ainda diferenciar entre uma criança e um animal.
O objetivo era claro, sem saber identificar quem ou o que está se movendo o soldado torna-se incapaz de tomar decisões por si próprio ou seja, com a mesma (muito pior) impessoalidade (ou se você preferir, despersonalização do próximo) com a qual xingamos com tanta facilidade pessoas no trânsito e na internet, com o agravante de estar em poder de um gatilho, uma metralhadora ou um canhão e ser indiferentemente reativo e irracionalmente suscetível a qualquer comando superior de ataque.
E quando este gatilho é apertado estamos falando de mísseis custando 80 mil dólares a unidade, disparados por um soldado recebendo 80 mil dólares por ano para acertar um soldado de um país pobre que quando muito vai receber 80 mil dólares ao longo de uma vida inteira.
Os strudels em uma cidade do interior emulavam essa desigualdade financeira entre os moradores, como eram naturalmente inflacionados minha avó tinha de fazer um carregamento extra de pão ou conservas para ganhar em troca um strudel do tamanho de uma mesa o suficiente para encher o bucho de todo mundo quando então, por algumas horas, todas as velhas de todas as etnias, facções, nacionalidades e religiões permaneciam em paz.
Se pode servir como um doce capaz de apaziguar as mesquinharias bairristas de cidades pequenas, o strudel também pode representar o ponto alto de uma história muito pouco falada em geopolítica mas absolutamente significativa sobre a natureza humana quando muitos anos após os idos de março romanos e alguns anos antes de Jay Kopelman chegar no Iraque, mas não menos importante, dois soldados de exércitos inimigos protagonizaram e estiveram ambos na exata mesma posição de irreconhecíveis aos olhos um do outro, quando um soldado sérvio atirou em um piloto norte-americano e acertou embora este fosse, teoricamente, invisível.
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No dia 27 de março de 1999 um caça furtivo F-117 Nighthawk da OTAN foi abatido ao retornar para a base aérea de Aviano no norte da Itália, após bombardear um alvo perto de Belgrado.
O Lockheed F-117 Nighthawk é um avião de ataque furtivo bimotor americana desenvolvida pela divisão secreta Skunk Works da empresa Lockheed e operada pela Força Aérea dos Estados Unidos como o primeiro avião operacional a ser projetado com tecnologia stealth ou seja, com baixa assinatura de radar, tornando-se praticamente invisível a curto e médio prazo durante a sua operação.
O F-117 Nighthawk voou pela primeira vez em 18 de Junho de 1981, entrando oficialmente em operação em Outubro de 1983 e aposentando-se no dia 22 de abril de 2008 mas agora mesmo em 2023, dois meses atrás, foi divulgado o seu retorno reformado e comissionado para atuar até 2034.
Em março de 1999 o piloto norte-americano Darrell Patrick "Dale" Zelko estava destacado para atuar na Sérvia como parte da Operação Allied Force da OTAN, uma intervenção considerada humanitária destinada a proteger albaneses étnicos durante a Guerra do Kosovo, um dos sete países que se formaram a partir da dissolução da antiga Iugoslávia logo após a queda da União Soviética em 1991.
Dale Zelko estava em sua terceira missão e saindo da área-alvo quando o seu até então invencível e invisível F-117 foi atingido forçando-o a ejetar para trás das linhas inimigas.
O piloto operou um alvo localizado na capital sérvia de Belgrado, protegida por um sistema integrado de defesa aérea de fabricação russa comandado pelo coronel sérvio Zoltan Dani, gerenciando um sistema de mísseis terra-ar quase 40 anos desatualizado na época, com seu alcance propositadamente limitado e podendo operar o radar e disparando o equipamento em rodadas por apenas 20 segundos de cada vez para evitar ser alvo de mísseis antirradar do aviões F-16 norte-americanos que geralmente serviam de escolta para os F-117 em operação.
Para contornar isso Zoltan mantinha seu sistema de mísseis em movimento enquanto observava as aeronaves que se aproximavam e alterou o equipamento para detectar aviões além da capacidade operacional normal dos mísseis.
Além disso os sérvios monitoravam as comunicações de rádio dos Estados Unidos e aliados nas frequências UHF e VHF e também foram capazes de interceptar o ATO (Air Tasking Orders) do avião da OTAN que permitiu colocar baterias antiaéreas em posições próximas aos alvos terrestres, além dos F-117 seguirem basicamente as mesmas rotas tornando a sua posição previsível e permitindo as defesas aéreas sérvias saber quando e onde “olhar” para os bombardeiros que chegavam.
Então, quando o avião de Zelko chegou ao alcance às 20h15 do dia 27 de Março, Zoltan Dani o detectou e ordenou o disparo, Dale Zelko viu dois mísseis com o segundo explodindo a cerca de dez metros e empurrando o seu Nighthawk em um rolo de 7 forças G negativas.
A única parte do ataque do míssil que Zelko diz não lembrar é encontrar e puxar a alça do assento ejetável e a sua próxima lembrança é de ter visto a cabine caindo.
Em apenas 1,4 segundos o seu paraquedas já estava aberto embora para ele pareceram horas, um daqueles famosos momentos onde a vida toda passa diante dos olhos, pensando na mãe, na esposa e na filha e até no inimigo.
Segundo suas palavras:
- Eu pensei no operador sérvio dos mísseis, imaginando tomar um café e ter uma conversa com esse cara e poder dizer "Belo tiro!", eu tinha este enorme respeito por ele e pelo povo sérvio”.
No solo o destacamento de Zoltan Dani e os sérvios vibraram, foi uma vitória única e um exemplo tático de criatividade de um exército pobre e mal equipado contra o maior exército do planeta e uma aeronave até então considerada imbatível.
Enquanto estava no paraquedas Zelko seguiu o protocolo de emergência e transmitiu sua posição pelo rádio na frequência de busca e salvamento, sabendo que os sérvios logo viriam procurá-lo, a temperatura estava um pouco acima de zero quando ele pousou e imediatamente enterrou a maior parte de seu equipamento, se cobrindo de terra e se escondendo em uma vala de irrigação.
Os sérvios chegaram ao local em 15 minutos e ele os observou enquanto era procurado.
Depois de uma hora conseguiu novamente fornecer suas coordenadas de GPS para as equipes de busca e salvamento da Força Aérea, uma unidade CSAR (Combat Search and Rescue), composta por dois helicópteros MH-53J e MH-60 com militares do AFSOC (Air Force Special Operations Command), coordenados pelo cruzamento e triangulação de informações em tempo real entre um avião satélite Boeing E-3 AWACS e várias plataformas especializadas incluindo outro avisão satélite Lockheed EC-130E e um avião de ataque A-10.
Ao todo foram oito horas entre Zelko puxar a alavanca de ejeção até as equipes de resgate chegarem ao local em segurança antes que as forças inimigas retornassem e localizassem o piloto abatido.
Depois deste dia todos os aniversários de Zoltan eram comemorados com bolos em formato ou decorados com versões de cobertura do avião F-117, ora inteiros, ora destruídos e durante os dias, semanas e meses seguintes os sérvios propagaram aquela que talvez seja a frase e campanha mais espirituosa e debochada de todos os tempos da história de todas as guerras:
- DESCULPAS, NÓS NÃO SABÍAMOS QUE ERA INVISÍVEL. -
Durante os conflitos o exército sérvio ainda declarou ter derrubado mais dois F-117 com o governo americano reconhecendo apenas mais um avião alvejado e danificado supostamente no dia 30 de abril de 1999, sem perda da aeronave.
Anos depois Atila, filho de Dani, assistia a um documentário "The 21st Second" do diretor sérvio Zeljko Mirkovic sobre seu pai quando surgiu uma reportagem sobre Zelko.
Atila sugeriu que seu pai procurasse Zelko e ele o fez por meio da Força Aérea dos Estados Unidos e para Dale Zelko não poderia ter sido uma comunicação mais bem-vinda.
Quando soube a respeito da idéia de encontrar o homem que atirou nele a sua reação imediata foi absolutamente positiva, sentindo profundamente ser uma missão de paixão.
A partir do primeiro contato ambos trocaram anos de correspondência compartilhando as suas histórias, emoções e ideais enquanto trabalhavam para um encontro pessoal e a escolha natural foi Dale se descolar para a Sérvia e conhecer Dani.
O mesmo cineasta que fez o documentário sobre Dani voltou para registrar os dois ex-adversários se encontrando e suas respectivas famílias tomando café, lançado sob o nome "The Second Meeting", café muito bem-vindo pois o agora ex-coronel dirigia uma padaria e panificadora de sucesso na sua comunidade.
Em menos de cinco minutos após uma troca de continência e um abraço ambos já estavam puxando massa na cozinha de Dani e nos dias que se seguiram conversaram sobre a noite em que quase se mataram e que terminou por os unir, visitando inclusive pela primeira vez o lugar onde Zelko se escondeu após ser atingido, hoje um milharal, a igreja local onde a família de Dani frequenta as missas e o Museu da Aviação de Belgrado, onde estão expostas as partes do avião derrubado.
Nos meses que se seguem Zoltan Dani voa para a América do Norte para conhecer a cidade e família de Dale Zelko, sua vida e seus filhos e suas respectivas esposas conversam sobre a natureza do trabalho de seus maridos e o medo da perda, na cena que para mim é a mais bonita e significativa do filme.
A sinopse do documentário resume bem:
War met the two men once.
One was a pilot of the invisible F-117A, the other the missile officer that shot him down.
Their first meeting was on the radar.
Dale Zelko and Zoltan Dani decided to meet each other 12 years later.
A human story of a unique encounter.
E a capa é de um romantismo nostálgico que só quem viveu a era das locadoras consegue entender, algo entre filme de ação, drama de guerra, e paródia ao mesmo tempo, você quase consegue ver o Tom Cruise ejetando do avião no fundo.
As famílias também se reuniram para a estreia do documentário em 2013 em Belgrado como uma mensagem de tolerância e compreensão e durante a entrevista coletiva surgiu a seguinte pergunta:
- Depois de desenvolver um relacionamento pessoal real entre as famílias, você poderia voltar em uma máquina de combate contra a Sérvia?
E Dale Zelko respondeu:
- Não, absolutamente, isso seria impossível. Você não pode mais retirar o elemento humano a partir dele. Nós encontramos uma solução para este problema e estamos mostrando as outras pessoas como fazê-lo, estamos dizendo para as pessoas que a paz é melhor do que a guerra. A coisa mais importante foi nós nos comunicarmos e nos tornarmos bons amigos, compartilhando emoções e sentimentos.
E concluiu:
- E agora usamos o mesmo forno para fazer bolo de chocolate e strudel.
Quem sou eu para discordar, se existe algo que aprendi desde a primeira infância até os dias de hoje é claro: quando você tira a bandeira, o uniforme, a religião, o time, o rótulo, a gangue, a facção, a etnia os alvos somem e sobram apenas pessoas, strudels e bolos de chocolate.
Tira-se a barreira e tem-se um igual, tira-se o radar e tem-se um rosto.
E se todos pudessem ter um stealth na garagem e um strudel no forno, a paz mundial seria imperativa.
No documentário "Meeting Gorbachev" de 2018 o cineasta alemão Werner Herzog comentou perguntando para o então ex-presidente da União Soviética Mikhail Gorbachev que o primeiro alemão que ele viu na vida provavelmente era alguém tentando matar ele, durante a sua adolescência da Segunda Guerra Mundial.
Gorbachev então responde que o seu primeiro contato com os alemães foi em uma vila vizinha a fazenda de seu avô, uma loja cheia de biscoitos de gengibre em formato de peixe, cavalo e coelho. Doces.
E foi assim, segundo suas palavras, que ele soube quem eram os alemães e na sua concepção somente pessoas maravilhosas fariam biscoitos tão maravilhosos, e obviamente gostou deles e sente saudades.
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A última e felizmente única vez em que eu estive envolvido diretamente em uma guerra eu disparei um único tiro, mirando uma bunda nada invisível e acertando na cabeça e eu mesmo descobrindo ser menos invisível ainda, e se tenho uma lembrança clara desta batalha é ela definitivamente não ter terminado em bolo de chocolate ou strudel.
Mas também pelos idos de março eu fui embora da minha cidade natal e demorei mais de vinte anos para lembrar do que realmente importa e, se não aprendi a fazer strudel ainda, aprendi a fazer pão. Geopolítica de cidade pequena é muito complexa, vamos falar de coisas mais simples como a mágica que se faz com farinha, água e sal.
As saudades, e a gentileza, se comportam como fermento de pão.
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Cápsulas do tempo.
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No dia 15 de Março agora fez 25 anos da morte do Tim Maia, a falta que faz.
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Surgiu no Reddit uma notícia sobre uma vizinha exigindo que outra mulher troque o nome de gato por achar o nome do animal ofensivo.
O nome do pestiado é Lúcifer, graciosamente chamado de Lucy ou Lulu.
Até aí tudo teoricamente bem, mas Lucy é exatamente o nome da filha da vizinha além de segundo ela ferir as suas crenças cristãs, então temos um caso de mãe de peste brigando com mãe de pet.
Cristão dando pitaco na vida dos outros, mas quanta novidade não é mesmo?
Eis a metáfora perfeita (mais uma!) sobre a liberdade e o ateísmo, se você aceitar alguém dizer o que fazer da sua vida, logo este alguém ditará outra regra.
E se você não perder tempo acreditando em deus ou diabo, você se diverte com ambos durante o dia e dorme sem medo à noite.
Nesta briga fico com Lúcifer, um gato preto nunca vai crescer o suficiente para se tornar outra vizinha de alguém no futuro.
Isto me lembrou uma vez que eu e o Guto estávamos indo na casa do Salvino e no caminho ele contou que eu iria conhecer os dois cachorros dele, o Medonho e o Hemorroida, quando interrompi e disse:
- Porra Guto, Medonho e o Hemorroida, esses nomes, tadinhos dos cachorros.
E o Guto respondeu:
- Você ainda não viu eles.
O Guto estava certo.
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Por falar em ditar regras o escritor Roald Dhal, autor de personagens como Matilda, Willy Wonka, as Bruxas e o Sr. Raposo, morreu em 1990 aos 76 anos.
Nas suas histórias transmitiu aos mais novos o valor de ser resiliente e o poder da generosidade, como Charlie da Fábrica de Chocolate ou da Matilda que se manteve fiel a si mesma apesar da família disfuncional que a maltratava.
Os seus livros venderam mais de 300 milhões de cópias em todo o mundo mas agora eles serão reescritos para adaptar a linguagem relativa a peso, saúde mental, violência, gênero e raça nos conformes da nova ditadura do bem-estar.
O personagem Augustus Gloop por exemplo deixa de ser descrito como o “gordo” e passa a ser “enorme”.
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No livro “O Bom Gigante Amigo" frases como “branca como lençóis” ou “casaco preto” serão removidas e a Sra. Peste, do livro “Os Pestes”, deixa de ser “feia” para ser apenas “bestial”.
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E os famosos Oompa Loompas deixam de ser “pequenos homens” para serem “pequenas pessoas”, adotando a mini-neutralidade de gênero e não quero imaginar as novas adaptações para o cinema que vierem por aí.
Agora o Tom Hanks fica sem emprego de vez.
A literatura vai ser adaptada para agradar uma geração que não lê mas não se esqueça, apagar o passado é reescrever o futuro dos outros e todo fascista é antes de tudo um falso moralista.
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E por falar em regras a Espanha aprovou uma lei permitindo jovens a partir dos 16 anos mudar de gênero no registo civil sem precisar de relatórios ou exames adicionais, indo apenas solicitar no cartório um simples procedimento administrativo, conhecida como "Lei Trans".
Em uma semana ocorreu um colapso no sistema de registo civil do país sobrecarregado por homens querendo mudar o seu gênero para mulher, embora o contrário não tenha acontecido com frequência.
Será que os homens cansaram dos seus privilégios e agora estão buscando reparar as mulheres historicamente da forma mais empática possível imaginada? Por que as mulheres na Espanha não aproveitaram esta mesma oportunidade de enfim conquistarem os privilégios que os homens têm apenas por serem homens?
Os homens decidiram lutar como umas garotas, the future is female, como dizem por aí.
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Fui dois dias seguidos no show do Paramore e no dia seguinte no show do Coldplay, sem palavras para o Paramore, banda do cacete com menções honrosas para a Hailey Williams e o seu carisma, voz, talento e humor acima do permitido por lei e a plateia de meninas se esgoelando como reza a etiqueta de quem realmemte quer aproveitar um show.
Já o Coldplay é um experimento social do Metaverso na melhor das hipóteses.
Não interessa quantos fogos, quantas luzes, quantas pulseiras luminosas, quantos watts de som e telões, Coldplay sempre vai parecer a festa de final de ano da firma, aquela que todos se arrependem de terem ido antes mesmo de irem embora.
Tudo parece sempre um esperançoso comercial de plano de saúde com um adicional terrível, a intenção de tanto impacto visual parece ser uma tentativa de fazer as pessoas filmarem menos e aproveitarem mais o momento mas tudo é tão visualmente exagerado que... as pessoas precisam filmar.
Mas não só isso, o vocalista da banda pede em uma das músicas para as pessoas não filmarem e ter um maior impacto e sincronia entre a música e as pulseiras luminosas.
O momento é tão falso, mas tão falso, que ele finge pedir para a banda parar e então recomeçar tentando parecer mais espontâneo, atitude que ele toma sempre na mesma música em todos os shows ou seja, o momento mais espontâneo também é o mais ensaiado. E como todo mundo fica filmando os buracos sem luz no meio da plateia acabam por parecer letras de neon apagadas de postos de gasolina na estrada de noite.
A minha sugestão seria elas darem choque cada vez que a pessoa tentasse bater uma selfie no meio do show ao invés de acender.
Por falar nelas, como toda banda chata a turnê mundial do Coldplay é ecologicamente sustentável ou seja, eles produziram centenas de milhares de pulseiras feitas de plástico com pilhas e leds coloridos que eles pedem para você devolver no final de cada show para outro idiota balançar no próximo e no fim da tour eles mesmos vão se responsabilizar em jogar elas no oceano, digo, centro de reciclagem, quando ninguém mais lembrar das noites inesquecíveis dos shows deles, legal né?
Ah, o idealizador das pulseiras fabricava brinquedos de sex shop e durante o show o vocalista usa um tênis feito de lixo.
E claro, duas horas e meia de playback, puro Coldplayback, mas quem se importa?
Nunca vi tanto relacionamento abusivo por metro quadrado, os famosos escravos de blogueiras com as suas respectivas deusas vivas com maquiagem radioativa no rosto, duas horas e meia batendo selfie.
Se você gosta de Coldplay você é uma pessoa ruim, o tipo de gente que come sushi em churrascaria, não usa canudo e se orgulha de ter um título de eleitor.
Mas calma, tem mais, o vocalista da banda tem de aproveitar e conhecer o brézel, foi em roda de samba, churrascaria, visitou ensaio de bateria de samba de uma turma de direito da USP (???), pisou naquela areia cheia de bituca de cigarro e água quentinha de xixi de carioca em Copacabana, deu violão autografado para o presidente.
O cara é mitologicamente um pé no saco.
Exagero meu? Tive a curiosidade de procurar qual religião ele seguia pois para mim estava claro que ele era católico mas ele consegue ser pior, ele se define como "alltheist" ou em bom português "tudo-teísta" pois ele acredita que Deus está em todas as pessoas e em todos os lugares.
Cadeira elétrica para um tipo desses, na boa.
Mas por que eu fui neste show se eu odeio tanto assim essa banda?
Ué, porque eu quis.
Agora eu já sei como é a antessala do inferno.
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Mas tudo bem, quinta e sábado assisti duplamente o Jane's Addiction e relembrei das primeiras e maravilhosas linhas de baixo que aprendi inteiras e encerrei a noite de sábado vendo o show do Tame Impala.
E Tame Impala é vida.
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Por falar em diabo e inferno, uma estátua de uma cabra preta e chifruda sentada em um trono foi colocada na fachada de uma casa de uma rua da cidade de Alvorada, no Rio Grande do Sul.
A dona da cabra é a mãe de santo Michelly da Cigana, moradora do local há sete anos e segundo ela a imagem retrata Belzebu, também conhecido como Baphomet ou Saravá Exu Maioral, e está no local há alguns meses "por determinação divina".
Mãe Michelly também tem um túmulo de Belzebu em sua casa e nas meias-noites da Sexta-Feira Santa eles abrem o túmulo e tiram a imagem do caixão e ela come na terra.
Apesar de assustar a vizinhança depois da polêmica o número de clientes (provavelmente católicos) aumentou bastante, se ela mudar o nome para Michelly da Coldplay vai encher até estádio.
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Por falar em pessoas ruins Suzane von Richthofen voltou a cursar biomedicina em uma universidade particular de Itapetininga, interior de São Paulo, após ser beneficiada com a progressão de pena para o regime aberto há cerca de dois meses.
Conforme informações de uma colega de sala a notícia sobre a matrícula de Suzane foi comunicada há algumas semanas pela direção da faculdade.
- Foram de sala em sala e comunicaram que a Suzane frequentaria as aulas. Pediram para que os alunos compreendessem e respeitassem o direito dela como cidadã.
O biomédico é o profissional responsável por realizar exames que possibilitem o diagnóstico por imagem, elucidar crimes por meio de análises de tecidos na Polícia Federal ou Civil, e traçar uma possível linha de investigação a partir
dos traços deixados pelo criminoso no local do crime.
Ou seja, ela está se especializando.
Eu não gostaria de fazer aulas práticas com ela e imagino eu que o recado para os colegas deva ter sido algo como:
- Pessoal, temos uma nova aluna com muita bagagem para dividir com a gente ao longo do curso, vamos aproveitar.
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A diarreia que tanto alegrou turistas no verão aqui na Ilha da Magia chegou na Universidade Federal de Santa Catarina, alunos cagando mole por todos os cantos, estamos vivendo a segunda onda da Cocôvid.
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