Foto: Ayrton Cruz
Se você está aqui pela primeira vez este ensaio faz parte de um livro sendo escrito em tempo real seguindo a narrativa do fluxo de consciência, se te interessar acompanhar o processo comece pelo primeiro.
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07/06/2023
FITZPATRICK
Acertar é humano, acertar duas vezes é estupidez.
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Duas histórias estranhas envolvendo refrigerantes e aviões, três histórias atrapalhadas envolvendo aviões, dois cultos envolvendo aviões, um deles é meu.
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Praticamente todas as civilizações antigas e muitas das primitivas ainda existentes possuem algum culto ou dança ou manifestação sazonal agradecendo ou pedindo para os deuses pela fartura de alimentos ou evitar a escassez alimentar.
Que os deuses façam chover, que as chuvas não tragam inundação.
Que o sol volte a brilhar, que o sol não traga seca.
Com o choque de civilizações a partir das grandes navegações e principalmente após a revolução industrial e as grandes guerras começaram a surgir fenômenos conhecidos como Cargo Cults, literalmente cultos de carga, a crença de que certos rituais e rezas farão uma sociedade mais avançada tecnologicamente, ou deuses, ou civilizações de outros planetas, trazer alimentos e bens materiais.
O período e região mais conhecidos de cultos de carga ocorreu entre os habitantes das ilhas da região da Melanésia no Oceano Pacífico durante e após a Segunda Guerra Mundial, quando uma pequena população de indígenas testemunhou, muitas vezes diretamente da frente das suas casas, Japão e Estados Unidos guerreando. Os japoneses distribuíam mercadorias e exploravam as crenças dos melanésios para obter sua obediência e mais tarde as forças aliadas chegaram nas ilhas.
As grandes quantidades de equipamentos e suprimentos militares lançadas dos céus (ou transportadas de avião nas pistas de pouso) para as tropas afetaram o modo de vida dos habitantes os quais nunca tinham visto estrangeiros antes e muito menos roupas fabricadas, remédios, comida enlatada, barracas, armas e outros bens que chegavam em grandes quantidades para os soldados.
Logo criaram-se cultos de adoração de americanos com nomes genéricos como "John Frum" ou "Tom Navy", identificando-os como entidades espirituais ou alienígenas que retornariam e forneceriam mercadorias no futuro.
Com o fim da guerra os militares abandonaram as bases aéreas e pararam de lançar mercadorias e em resposta líderes carismáticos das tribos desenvolveram cultos entre as populações remotas prometendo trazer comida, roupas e armas para seus seguidores.
Na tentativa de fazer com que as mercadorias caíssem de paraquedas ou pousassem em aviões ou navios novamente os habitantes imitavam as mesmas práticas que haviam observado os militares realizarem, incluindo atividades do dia a dia e os estilos de vestimenta dos soldados americanos, até mesmo teatralizando exercícios com rifles de madeira improvisados, fones de ouvido de madeira e torres de controle improvisadas no topo de árvores, acenando sinais e acedendo fogueiras simulando sinalização de pouso de aviões.
Estas crenças encontraram a confluência perfeita na cultura das sociedades indígenas da Melanésia, geralmente caracterizadas por um sistema político baseada na figura do "grande homem", onde um indivíduo garantia prestígio por meio de trocas e presentes e quanto mais riqueza um homem pudesse distribuir mais pessoas estariam em dívida com ele e maior seria sua reputação, enquanto aqueles que não conseguiam retribuir eram considerados "homens desprezíveis".
Com a chegada dos militares e a oferta aparentemente interminável de bens para troca por parte deles os melanésios indígenas experimentaram uma condição de dominação de valor ou seja, eles se viram dominados por outros em relação ao seu próprio sistema de valores, e as trocas com os estrangeiros os deixaram se sentindo inferiorizados e em constante posição de desvantagem e dívida.
Como não conheciam os processos modernos de fabricação os melanésios acreditavam que os bens manufaturados da cultura estrangeira haviam sido criados por meios espirituais (através de divindades e antepassados) e com os rituais certos imitando uma cultura mais avançada ester bens seriam destinados a eles.
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No filme The Gods Must Be Crazy (Os Deuses Devem Estar Loucos, de 1980) Xi, um membro da tribo Kung na África, leva uma vida simples e pacífica até um dia um avião jogar uma garrafa de Coca-Cola vazia no deserto, e os membros da tribo passam a tratar o objeto como divino, transformando-a de algo absolutamente descartável aqui no ocidente em uma ferramenta, ou instrumento musical ou em dezenas de outras funções malucas.
O tão recente e adorado objeto logo se torna motivo de discórdia entre eles, porque todos querem ter apenas para si, e apesar de divina bastou apenas uma garrafa de Coca-Cola vazia para o caos se instaurar.
Tentando resolver o problema Xi decide se livrar da garrafa e parte em uma jornada para devolvê-la aos deuses.
No caminho encontra uma série de personagens peculiares e passa por várias situações tão peculiares quanto até uma antropóloga chamada Kate se envolver na história e tentar entender a cultura da tribo, em um filme divertidíssimo que te dá uma lição de choque cultural, comunicação, valores e a o contraste da simplicidade da vida com a sociedade moderna.
A Pepsi por sua vez prometeu entregar o avião inteiro, e não cumpriu.
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Quando se é criança, principalmente, você quer tudo e fantasia com tudo.
Um tanque de guerra para passear com a esposa, um helicóptero para passear com a amante, porque até entrar na adolescência um jato parecia ser coisa só para crianças dos EUA.
Mas aí veio a Pepsi (a mesma que nos fez sentir gosto de limão onde não existia limão) nos azedar a vida novamente tentando ser melhor que a Coca-Cola e fazendo a gente sonhar acordado de novo.
E nos enganando de olhos arregalados.
Em março de 1996 a empresa iniciou a campanha promocional Pepsi Stuff, os clientes poderiam acumular os chamados Pepsi Points (por meio da compra de produtos da Pepsi em etiquetas afixadas e destacáveis) e trocar por itens, de brinquedos e acessórios a camisetas e jaquetas de couro.
Para anunciar a promoção a Pepsi lançou uma série de comerciais de televisão e a parte final de um destes exibia um jato AV-8 Harrier II da empresa McDonnell Douglas com a logomarca da Pepsi gerado por computador, mostrando um adolescente felizão estacionando o avião em um colégio, com a promessa de troca através de 7 milhões de Pepsi Points, um sonho difícil e caro mas não necessariamente impossível.
Este final chamou a atenção de John Leonard, um estudante de negócios de 21 anos, e ao ler as regras das trocas Leonard percebeu a possibilidade de comprar os Pepsi Points diretamente por 10 centavos cada ponto, totalizando 700.000 dólares para levar o avião pousar em casa ou em alguma faculdade impressionar as Karlas da vida.
Leonard conseguiu emprestar este valor de um amigo milionário e enviou um cheque incluindo o adicional extra de remessa e manuseio e 15 etiquetas, de acordo com as regras da promoção.
A oferta foi recusada pela Pepsi, respondendo se referir à imagem do jato Harrier no comercial como "fantasiosa", afirmando também que a intenção era criar um "anúncio bem-humorado e divertido".
Leonard decidiu então processar a companhia alegando quebra de contrato e fraude mas o tribunal rejeitou as alegações de Leonard por vários motivos, incluindo:
- Constatou-se que o anúncio do jato não configurava oferta nos termos do Reajuste de Contratos.
- Nenhuma pessoa razoável poderia acreditar que a empresa pretendia seriamente vender um jato no valor de aproximadamente 37,4 milhões de dólares por apenas 700.000 dólares, caracterizando mero exagero retórico.
- O valor do alegado contrato fazia com que se enquadrasse no Estatuto das Fraudes mas não foi cumprido o requisito mínimo de acordo escrito diretamente entre as partes, pelo qual não foi celebrado contrato.
Em sua justificativa o tribunal ainda acrescentou:
- O jovem inexperiente apresentado no comercial é um piloto altamente improvável, alguém em quem mal se pode confiar as chaves do carro de seus pais, muito menos o premiado avião do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos.
- O comentário do adolescente de que pilotar um Jato Harrier para a escola é melhor do que o ônibus evidencia uma atitude improvável e despreocupada em relação à relativa dificuldade e perigo de pilotar um avião de combate em uma área residencial e escolar.
- Nenhuma escola forneceria espaço de pouso para o caça a jato de um aluno ou toleraria a interrupção que o uso do jato causaria.
Lenoard recorreu ao Tribunal de Apelações dos Estados Unidos, que emitiu apenas uma breve opinião concluindo:
- Afirmamos substancialmente as razões declaradas na opinião do juiz Wood na sentença original.
Ainda segundo o tribunal a Pepsi nunca descontou o cheque, então não havia caso para fraude.
A empresa continuou a veicular o comercial mas atualizou o custo do Harrier Jet para 700 milhões de Pepsi Points e acrescentou um selo esclarecedor de "BRINCADEIRA" logo abaixo do valor.
No meio da controvérsia o Pentágono afirmou que o Harrier Jet não seria vendido a civis sem desmilitarização da aeronave, excluindo a tão fantasiada capacidade de pousar e decolar verticalmente.
Se esta moda pega faltaria estacionamento, a não ser que você fosse o Thomas Fitzpatrick.
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Às 3 da manhã de 30 de setembro de 1956 Thomas Edward Fitzpatrick encheu a cara e apostou que poderia viajar de avião entre Nova Jersey e Nova York em 15 minutos, e ainda pousaria na frente do bar.
Honrando a sua parte da aposta roubou um avião monomotor da Teterboro School of Aeronautics no aeródromo em New Jersey, voou sem luzes ou rádio até pousar na St. Nicholas Avenue, perto da 191st Street, em frente ao bar prometido.
O jornal New York Times chamou o voo de "proeza aeronáutica" e um "pouso perfeito".
Não se sabe o valor da aposta mas Thomas foi multado em 100 dólares (ou 1000 Pepsi Points em valores da década de 90) por voar ilegalmente mas por sorte o proprietário do avião se recusou a prestar queixa.
Menos de uma semana depois, em 4 de outubro de 1958, Thomas Fitzpatrick novamente embriagado roubou outro avião do mesmo aeródromo perto da uma da madrugada e pousou na esquina das ruas Amsterdã e 187 depois de apostar novamente com outro cliente do bar não acreditou na sua primeira façanha.
Desta vez o juiz o sentenciou a seis meses de prisão, afirmando:
- Se você tivesse sido devidamente sacudido na primeira vez, provavelmente não ocorreria uma segunda vez.
Fitzpatrick culpou a bebida ruim do bar por tentar repetir o ato.
Acertar é humano, acertar duas vezes é estupidez mas ok, entrar para a história assim me parece divertido e curioso, o pior é quando Deus dá asas para quem não sabe ejetar.
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Em março de 2019 um homem de 64 anos durante um voo em um jato Dassault Rafale B de dois lugares acabou se ejetando sem querer, ao segurar a alavanca de ejeção tentando se firmar enquanto voava a mais de 500 km/h.
Investigadores do acidente encontraram uma série de erros na preparação do voo, incluindo advertências médicas ignoradas de que o passageiro não deveria se submeter aos 3,7 g de força gerada pela decolagem e correias de assento soltas que permitiram ele flutuar dentro da cabine.
O homem, cujo nome foi preservado pelos sites de notícias, também perdeu o capacete ao ser ejetado e nunca expressou qualquer desejo de voar em um caça a jato e não tinha experiência anterior em aviação militar, o voo havia sido um presente dos colegas de trabalho e ele se sentiu incapaz de recusar.
O seu coração estava batendo entre 120 e 145 batimentos por minuto momentos antes de sair do solo.
O relatório do acidente aéreo divulgado um ano depois revelou que a ejeção involuntária aconteceu quando o jato atingiu cerca de 1.300 pés de altura (400 metros) segundos depois de partir da base aérea de Saint-Dizier, no nordeste da França, e felizmente seu paraquedas abriu garantindo um pouso relativamente suave em um campo próximo, evitando ferimentos graves antes de ser levado ao hospital.
Ironicamente um mau funcionamento mecânico impediu que o piloto também fosse ejetado automaticamente, conseguindo pousar o avião na pista mesmo sem parte da proteção da cabine.
Eu não sei se foi presente de aniversário, mas se existem duas coisas irrecusáveis são brigadeiro e céu de brigadeiro.
Agradeceria de joelhos e encararia esta tarefa com prazer, porque se existe algo que sei fazer bem é viajar de avião com a cara na janela.
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Eu mesmo já pensei em criar o culto da janela.
Ah, a janelinha do avião, eu faço qualquer coisa para sentar nessa janelinha.
Eu votaria em um candidato se ele fizesse questão de sentar na janelinha do avião presidencial.
Eu pediria uma mulher em casamento se ela brigasse comigo para sentar na janelinha do avião sendo muito óbvio que eu não cederia o lugar, mas amaria ela para sempre.
Os melhores amigos gostam da janelinha do avião, as melhores pessoas jamais abrirão mão da oportunidade de olhar o mundo lá de cima pela janelinha.
Eu adoro o conceito distorcido de status incutido na frase "coisa de pobre sentar na janelinha".
Perceba, quem diz isto são os mesmas pessoas que se acotovelam para descer logo do avião no aeroporto com aquela expressão "a minha pressa é mais importante que a sua alegria" no rosto capaz de tornar qualquer ser humano feio e amargo.
Pobre é tentar parecer importante aos olhos de estranhos, pobre é não gostar de olhar o mundo de cima das nuvens, é ser tão desinteressante em seu mundinho a ponto de fingir achar (ou achar de fato) o mundo ao redor sem graça.
A janelinha do avião é um exercício de paz e reflexão.
E imaginação.
Quando o avião está acima das nuvens eu invariavelmente penso se não existiria um lugar melhor para se viver ali, onde todas as meias fossem descartáveis e as louças comestíveis, onde ninguém te oferecesse Nescafé, com Coca-Cola gelada saindo das torneiras e onde a pena de morte seria enfim instituída para todo imbecil que tivesse a coragem de perguntar "Pode ser Pepsi?".
Um lugar onde pinhão fosse considerado fruta e seria a fruta da estação o ano inteiro, onde todos os peixes já sairiam da água pré-fritos e à milanesa, onde livros ainda fossem lidos e pessoas ainda seriam mais interessantes que aplicativos de celular.
Um lugar onde os comissários e pilotos falariam português e inglês e não aquele dialeto bizarro misturando as línguas e errando em ambas.
Enquanto os pobres de espírito 5G ainda tentam manter a pose instagramando o ego e fazendo farofa-fa-fa comendo a bolacha do serviço de bordo eu pego só uma água e forço a vista para mais longe ainda me perguntando se aquela nuvem lá no fundo não seria enfim o tal céu canino como me foi prometido na infância.
E aí me pergunto se o meu finado cão Pluto estaria lá mas esse pensamento não dura dois segundos pois, sendo de quem era e fazendo o que eu pedia para ele fazer esse cão só pode estar agora no inferno, e fico feliz ao concluir desta forma pois o inferno é quentinho e terei um bom amigo lá.
Aí eu vejo as comissárias recolhendo os copinhos e me pergunto se em aviões da primeira classe elas servem pinhão na chapa e atendem nuas, só de luvas e salto alto.
E aí me pergunto se imaginar as comissárias trabalhando nuas só de salto e luvinha branca não seria muito exagero da minha parte, um biquíni minúsculo estaria ironicamente de bom tamanho.
As nuvens abrem e aparece lá embaixo a sobra da mata atlântica e eu penso se não seria bacana arrancar logo tudo de uma vez e plantar apenas milho, maçã, pinhão e melão assim teríamos milho, maçã, pinhão e melão o ano todo para poder almoçar todos os dias milho com maçã de sobremesa e jantar pinhão e depois melão indefinidamente ATÉ MORRER.
O McDonalds teria hambúrguer de pinhão com molho Dijon, nuggets de pinhão e sobremesa McFlurry de paçoca de pinhão.
Aparece uma praia e eu imagino se ela não seria uma praia de nudismo onde apenas as mulheres ficam nuas mas logo imagino ser egoísmo da minha parte pensar assim e concluo: topless então, de topless e scarpin, assim todo mundo fica feliz.
E luvas brancas.
Afinal homens gostam de peitos e topless e scarpin nunca saem de moda.
Free the nipples, and the stilettos.
E assim o voo segue, olho para o horizonte novamente e logo imagino outro avião ultrapassando o meu e então reconheço uma ex-namorada na janela, trocamos tchauzinhos e levamos o seguinte diálogo com o típico abre e fecha de boca de quem está falando sem emitir som:
Eu - "e aí!!!"
Ela - "oiiiiii!!!"
Eu - "tá indo pra São Paulo também??"
Ela - "hã??"
Eu - "São-Pau-looo!!"
Ela - "não, Rio-de-Janeirooo!!"
Eu - "hã?"
Ela - "Riooo!!"
Eu - "haha sim, frioooo!!"
Faço o famoso joinha de "até uma próxima encarnação" e ela sorri azedo.
Nunca entendia o que ela falava mesmo.
O avião dela ultrapassa pegando a via expressa aérea e eu concluo: "mal educada, ultrapassa pela direita".
A janelinha do avião é também um espelho do nosso humor.
Em bons momentos eu vejo as cidades lá de cima e imagino um mundo sem DST e pinhões cozidos no pé e já sem casca em uma enorme orgia sem culpa onde todos morreríamos ou de transar ou de tanto comer pinhão no pé.
Ou transar de pé comendo pinhão.
E melão de sobremesa.
Em maus momentos eu já imagino as mesmas cidades com aquele cogumelo atômico lá na frente e trilha sonora do Slayer ao fundo.
Chaos rampant,
An age of distrust.
Confrontations.
Impulsive habitat.
Porque feliz é quem senta na janelinha e deixa a imaginação voar junto, para o bem ou para o mal da humanidade.
Eu imagino jogar um tomate lá de cima e ele acertar a sua testa.
Eu imagino um saco de xixi caindo na cabeça do Bono Vox.
Eu imagino a mulher mais linda do mundo sentando do meu lado e eu levaria ela para ver a borda da terra plana e diria:
- Gata, um dia tudo isto será seu, o planeta é finito mas o meu amor por você não, vou jogar catupiry na borda do mundo gata, quando o aquecimento global vier e ele derreter vai ter uma praia de catupiry só para você.
Eu imagino um mundo com cocos sem casca, mangas sem caroço e costelinhas de porco sem osso.
Chuva de M&Ms, tempestade de Bala Toffe, temporal de Sucrilhos, baldes de Danoninho e piscinas de Polenguinho.
Afundar até os joelhos num lamaçal de Nutella, cair de cara numa duna de paçoca e escorregar em pedregulhos feitos de bala 7 Belo.
Porra como o mundo poderia ser mais justo, delivery de bolinho de arroz, band-aid comestível (você comeria não me julgue) e banheiras de Yakult.
Olho para baixo e vejo uma cidade dessas onde só quem mora lá sabe o nome e dois prédios que parecem ser as duas únicas fábricas da cidade e imagino se não seriam as miológicas fábricas de pozinho de macarrão instantâneo e do lado a fábrica de açúcar daquela bala ácida e imagino também quão fácil seria assaltar ambas com dois caminhões, quatro homens armados, coletes à prova de balas, granadas e... deixa pra lá.
Olho para frente começo a me perguntar o motivo de você pagar pelo excesso de bagagem na hora de embarcar.
Isto significa que existe espaço no avião - e só estão tentando tirar mais um pouco do seu dinheirinho - ou o avião já está no limite e pode cair por excesso de peso - e só estão tentando tirar mais um pouco do seu dinheirinho antes de você morrer?
Se pudesse abrir a janela durante o voo eu ficaria com as mãos para fora o tempo todo planando aviãozinho ou mandando uma banana para todos vocês mas como não se pode ter tudo na vida então eu apenas imagino.
Você imagina coisa muito melhor ou pior, tenho certeza, embora não admita pois precisa descer logo no aeroporto.
Nem ligo, pode descer na minha frente, eu pretendia olhar a sua bunda de novo mesmo.
Bom, se ainda assim você não entende os motivos pelos quais eu gosto de sentar na janelinha fique apenas com esse sucinto poema:
De Floripa sempre saio com uma mão no coração
Em Congonhas sempre desço com o cu na outra mão
Ainda bem que o piloto é playboy e sempre puxa o freio de mão
Porque eu sempre farei questão da janela do avião
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Se um avião pode estacionar duas vezes no mesmo lugar e um mal agradecido pode reclamar de um presentão e ainda sair vivo, talvez dois aviões explodindo no mesmo atentado seja apenas a lei do retorno.
E sobra até para o Lou Bega.
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Cápsula do tempo.
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Dei uma passada no Mita Festival, no sábado fui bem cedo assistir a Duda Beat, como pode ser tão gostosa, ela poderia cantar só de luvas brancas e scarpin, e além de gostosa ela ensina duas coisas mágicas sobre o Brasil:
1- Só a gente tem o estilo musical Trip Róp (Trip Hop + Forró).
2- De todos os nossos sotaques o de Récifi falando di-á-mô é o mais bonito.
Inclusive um amigo meu me perguntou se eu estava apaixonado por ouvir tanto a música dela. Respondi que quando estou apaixonado ouço Slayer. Ele perguntou qual foi a última vez que ouvi Slayer. Respondi que moro em Florianópolis, e quem mora em Florianópolis ouve Slayer todas as semanas.
Depois fui comer churros superfaturado e fiz questão de ir embora mais cedo e boicotar a Lana Del Rey.
A música dela nem é ruim, tem coisinhas legais, mas é a típica artista que presta um desserviço para o mundo, e a cada dez anos surge uma corcunda assim: Alanis Morrem Sete, Natalie Embrulha, Amy Chorume House e essa Lama do Rio. Propaganda de cigarro disfarçada, Rivotril, Corote, destroem umas duas gerações de meninas e aí surge outra para assumir o posto.
Sem falar que, Lana:
My pussy tastes like Pepsi cola
My eyes are wide like cherry pies
I got sweet taste for men who are older
It's always been so, it's no surprise
Sério cara?
Buceta com gosto de Pepsi?
Já pensou em ir no ginecologista?
No domingo assisti o NX Zero, aí sim, meninas alegres, pra cima, algumas acompanhadas dos pais igualmente sorridentes e absolutamente todas se esgoelando de cantar, isto sim é plateia.
E de noite pela terceira vez na vida assisti o show do The Mars Volta.
Pela terceira vez sem palavras.
Te amo Cedric abelhudo.
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