Foto: Ayrton Cruz
Se você está aqui pela primeira vez este ensaio faz parte de um livro sendo escrito em tempo real seguindo a narrativa do fluxo de consciência, se te interessar acompanhar o processo comece pelo primeiro.
--
20/06/2023
LOU BEGA
--
Décadas antes, décadas depois, a lei do retorno é implacável, a censura também, um lago amargo também.
E sobra até para o Lou Bega.
--
Eu não diria que Freakonomics é o livro da minha vida mas com certeza eu indicaria para qualquer pessoa neste mundo e foi o livro mais importante no momento quando li, quinze anos atrás, reafirmando em mim uma regra pessoal de ouro: desconfie, de tudo.
Você pode até estar errado no fim, mas nunca estará errado por se sentir no direito de duvidar.
A dúvida é o maior exercício de liberdade num mundo onde cada vez mais as pessoas estão cheias de certezas e razões, e cada vez mais vazias.
A incerteza preenche e sempre será a força motriz da humanidade, das relações entre as pessoas e a graça de viver.
E por entender o mundo assim desde sempre este livro me define como o antes e o depois de ter lido, a partir dele entendi muito melhor a natureza humana, conheci pensadores e escritores maravilhosos (romancistas ou não), descobri o amor tardio pela matemática e economia e mais importante, o meu objetivo de vida.
Dentre as várias passagens e capítulos curiosos e provocativos um deles se destaca e foi muito polêmico na época: piscinas matam mais que armas, pelo menos nos Estados Unidos, provavelmente o país com mais piscinas e armas per capita do planeta.
Os números não deixam dúvidas, a cada ano uma criança morre afogada para cada 11.000 piscinas americanas, em um país com seis milhões de piscinas isso significa cerca de 550 crianças com menos de dez anos de idade afogadas por ano.
Enquanto isso anualmente uma criança é morta vítima de uma arma de fogo para cada um milhão disponíveis, em um país com cerca de 200 milhões de armas de fogo esta proporção se traduz em 175 crianças com menos de dez anos mortas vítimas de armas, sejam estas acidentais ou violentas.
De forma mais resumida a probabilidade de morte em uma piscina (1 em 11.000) é aproximadamente cem vezes maior versus a de morte por arma de fogo (1 em 1.000.000).
De fato este tipo de desproporção entre a percepção popular e a real probabilidade de certos tipos de morte se repete com frequência no dia-a-dia, em outro exemplo quase clássico as pessoas têm muito mais medo dos aviões que dos carros, embora os carros sejam responsáveis por muito mais mortes.
Na minha percepção a relação das pessoas com a morte é como se fosse uma loteria invertida, quanto mais parece improvável maior é o impacto e mais atenção se dá ao tema, armas matam mas piscinas divertem, carros se acidentam o tempo todo e pessoas morrem todos os dias assim, mas um avião caindo e dezenas ou centenas morrendo de uma única vez é traumático e inesquecível.
Outras probabilidades de mortes estranhas faladas aqui e ali são:
- Atingido por um coco: 1 em 250 milhões
- Desastre de avião: 1 em 11 milhões
- Em um acidente nuclear: 1 em 10 milhões
- Em um ataque terrorista: 1 em 9 milhões
- Por ser canhoto: : 1 em 4 milhões
- Picado por uma cobra: 1 em 3 milhões
- Mordida de tubarão: 1 em 3 milhões
- Atingido por um raio: 1 em 1 milhão
- Afogado na banheira: 1 em 700 mil
- Tirar uma selfie top: 1 em 600 mil
- Dois aviões caindo no mesmo lugar: somente quando necessário.
--
Em outra passagem do filme/documentário "Heart of a Dog" Laurie Anderson leva Lolabelle para passear perto do mar e em um certo momento alguns gaviões começaram a circular cada vez mais próximos, provavelmente confundindo a Rat Terrier com um coelho ou preá, quando ambas perceberam (cada uma a seu modo) duas coisas, e Laurie se tocou disso ao notar os olhos da cadelinha:
- Pela primeira vez na vida Lollabelle era uma presa, e os gaviões estavam ali para matar ela.
- E pela primeira vez na sua vida, percebeu que a morte pode vir dos céus.
No mesmo dia Laurie lembrou ter visto este mesmo olhar da sua cachorra nos olhos dos seus vizinhos em Nova York nos dias após os Atentados de 11 de Setembro.
E na segunda parte de Todos os Cães Merecem o Céu (All Dogs Go to Heaven 2, de 1996) e décadas após o enredo do primeiro filme, Charlie B. Barkin dá as boas-vindas a seu amigo Itchy no céu mas afirma que está desiludido com a vida após a morte.
Seu antigo inimigo Carface Caruthers roubou o chifre do anjo Gabriel mas o perdeu em algum lugar de San Francisco e quando a anja Annabelle anuncia o roubo Charlie apresenta sua candidatura para recuperá-lo, lembrando de sua familiaridade com a vida nas ruas.
Annabelle envia Charlie e Itchy à Terra para recuperá-lo e dá a eles o crédito de um milagre para usar.
Chegando em San Francisco Charlie e Itchy tentam se entregar aos seus velhos hábitos mas descobrem que são fantasmas incapazes de interagir com o mundo físico.
Em uma taverna Charlie é encantado por uma bela e charmosa Setter Irlandesa chamada Sasha La Fleur e Carface aparece em uma forma corpórea concedida por uma coleira de cachorro vermelha criada por Red, um cão idoso cartomante que dá a Charlie e Itchy coleiras equivalentes válidas por um único dia. Sem o conhecimento da dupla, Red é na verdade um grande gato demoníaco que pretende pegar o chifre para si mesmo com a ajuda de Carface.
Charlie e Itchy conhecem Sasha e um menino humano de oito anos de quem ela cuida chamado David e que fugiu de casa para se tornar um mágico de rua, Charlie usa seu milagre para conceder a Sasha a habilidade de conversar com David, quepassa a chamar Charlie de seu anjo da guarda.
Logo após Charlie vê o chifre sendo levado para uma delegacia de polícia e o recupera, mas sem vontade de voltar para o céu ele o esconde em uma armadilha para lagostas.
Depois da performance mágica de rua de David terminar em fracasso ele revela que seu pai e sua madrasta estão esperando um novo bebê e vão se importar menos com ele quando nascer, mas Charlie o convence do contrário e promete devolvê-lo para casa, mas em particular divide com Sasha as suas dúvidas sobre poder cumprir sua promessa quando os colares de Charlie e Itchy desaparecem e eles se tornam fantasmas mais uma vez.
Carface sequestra David e ordena que Charlie traga o chifre de Gabriel para a Ilha de Alcatraz e o entregue a Red em troca da vida de David.
Determinado a manter sua palavra Charlie satisfaz a demanda de Red, que usa o chifre para capturar e aprisionar os anjos caninos do Céu em Alcatraz enquanto abre um portal para conectar permanentemente o mundo humano ao Inferno.
Depois de uma luta contra Red Charlie recupera o chifre e o toca liberando os anjos e enviando Red e Carface ao Inferno, Charlie e Itchy são levados para o céu devolvendo o chifre para Annabelle em troca de uma nova vida.
Charlie se despede de Itchy, que decide permanecer no céu, e enquanto ele e Annabelle retornam Charlie chega em San Francisco e se reúne com Sasha e David.
David volta para casa e se reconcilia com seu pai e sua madrasta aliviados e Charlie e Sasha se tornaram companheiros, sendo adotados pela família de David como animais de estimação.
Don Bluth, o criador da história original e diretor do primeiro filme, foi por muitos anos chamado de principal concorrente dos desenhos da Disney apesar do estilo de animação ser mais áspero e o foco narrativo muito mais religioso
e espiritualizado, e de todas as lições que desenhos animados nos ensinam as aventuras de Charlie (ou melhor, desventuras) a maior delas é que a lei do retorno pode ser escrita por você antes dela ser aplicada.
Mas quando eu era criança eu aprendi lições mais estranhas sobre a nossa cultura, e principalmente sobre quem tem controle sobre a mesma.
--
A banda carioca Blitz foi a maior banda de rock a fazer sucesso no Brasil poucos anos antes da primeira edição do festival Rock in Rio, vendendo mais de 300 mil cópias do seu primeiro disco, As Aventuras da Blitz, lançado em 26 de Setembro de 1982.
Mas um pouco antes de chegar a esta marca a ditadura militar entrou em ação e através da nada sutil Divisão de Censura de Diversões Públicas censurou o disco quando 50 mil cópias já haviam sido prensadas e destas 20 mil já estavam à venda nas lojas.
Os censores consideraram as duas últimas faixas do álbum — “Cruel Cruel Esquizofrenético Blues” e “Ela Quer Morar Comigo na La” — impróprias por conter o termo "bundando" (considerado um palavrão) e trocadilhos com a palavra "peru":
Ô ela diz que eu ando bundando
E que não agito nem uso
E fico confuso vendo o mundo rodar
E nessa dança você não sai do lugar
E
Que se foi como aquela empregada radical
Que você mandou embora numa cena feia
Depois da ceia na noite de Natal
Só porque ela pegou no peru do seu marido (peru de Natal...)
Por causa disso as outras 30 mil cópias já produzidas foram recolhidas e os seis membros se reuniram e durantes horas pegaram agulhas e facas e chaves de fenda e arranharam disco por disco as duas últimas faixa de cada um, criando assim três versões do disco: 20 mil cópias inteiras e hoje raríssimas com as duas faixas audíveis, 30 mil cópias pseudo-autografadas e riscadas pela própria banda, e 250 mil cópias sem ambas as faixas que só se tornaram conhecidas uma década depois com o relançamento do disco em CD.
Além do álbum o single com o maior sucesso da banda, a música Você não Soube me Amar vendeu um milhão de cópias, sendo que no lado B havia apenas a voz do cantor Evandro Mesquita, respondendo a pergunta da letra original da música:
Amor que que 'cê tem
'Cê ta tão nervoso
Nada nada nada nada nada nada
Um ano depois e alguns quilômetros acima do Rio de Janeiro, em plena Salvador no Estado da Bahia, terra de todos os santos, do samba, da capoeira, da MPB e do acarajé e muito mais coisas abençoadas, surgiu uma pequena maldição: Camisa de Vênus.
Não exatamente a camisinha, mas uma banda tão desagradável e incômoda que ninguém comentava abertamente com eles, então o vocalista decidiu chamar a banda de, só para fazer juz, Camisa de Vênus.
Não bastasse isso o motivo de tanto desagrado e incômodo era plenamente justificado já no primeiro disco da banda se você levar em conta a letra de apenas uma música, Bete Morreu:
Bete tão bonita, gostosa
Era um tesão na escola
Sempre na coluna social
Exibindo seu sorriso banal
Todos queriam Bete
Desejavam Bete
Sonhavam com Bete
Mas ela nem ligava"
Um dia ela saiu de casa
Mas ao dobrar a esquina
Foi empurrada dentro de um carro
Para deixar de ser menina
Amordaçaram Bete
Espancaram Bete
Violentaram Bete
Ela nem se mexeu
Bete Morreu!
Bete Morreu!
Seu corpo foi encontrado
Por um chofer de caminhão
E agora está apodrecendo
Lá dentro do caixão
Amordaçaram Bete
Espancaram Bete
Violentaram Bete
Ela nem se mexeu
Bete morreu!
Bete, Bete morreu!
Divisão de Censura de Diversões Públicas atacou novamente e mandou recolher as cópias disponíveis do disco por "usar termos grosseiros para contar a história do assassinato de uma mulher" e no parecer dos censores apenas as palavras "gostosa" e "tesão" apareciam censuradas então a banda garantiu a liberação da letra alterando "gostosa" por "cheirosa" e "tesão" por "atenção" e Bete continuou a morrer sem paz, numa prova máxima de que todo moralista tem pavor de mulher gostosa de saia curta mas é conivente com a violência.
Não pode bundar, não pode peru, não pode chamar de gostosa nem de tesão, mas trucidar não há problema.
--
Na Rússia dos anos 50 após a Segunda Guerra Mundial Josef Stalin proibiu vender, comprar ou ouvir qualquer música ocidental, todos os registros permitidos no país tinham de ser compositores russos.
Havia muito interesse na música popular do ocidente, desde Jazz e Blues até Rock & Roll, mas o contrabando de vinis era perigoso e comprar o material escasso para fazer cópias dos discos que chegavam ao país era caro e muito mais arriscado ainda.
Uma solução engenhosa para este problema começou a surgir na forma da chamada música "Bones'n'Ribs", ou simplesmente Ribs, através da criatividade de um jovem engenheiro de som de 19 anos chamado Ruslan Bogoslowski, de Leningrado.
Sem poder comprar os discos e a dificuldade de encontrar matéria prima derivada de petróleo no pós-guerra um dia ele encontrou uma pilha de radiografias descartadas nos contentores de lixo de um hospital e pagou aos enfermeiros pelas placas de raio-X, cortando e gravando diretamente nelas as músicas disponíveis, fazendo cerca de um milhão de cópia durante mais de 20 anos operando clandestinamente.
Cada disco era feito à mão e único com decoração involuntária de ossos quebrados, colunas vertebrais e articulações, resistia poucas reproduções e foi a única maneira dos amantes da música russos ouvirem algo novo e diferente em festas e cafés longe dos olhos e ouvidos da KGB, um testemunho da coragem de subverter a autoridade, a rebelião e prova de louvor e amor pela música independente de fronteiras e ideologias, e uma atitude pra lá de Rock and Roll.
E por falar nele, o Rock and Roll, os anos 50 estavam fervilhando no continente americano, e podem ser resumidos pelo sucesso da música "Hound Dog", uma canção Blues de doze compassos escrita por Jerry Leiber e Mike Stoller, gravada originalmente por Big Mama Thornton em 13 de agosto de 1952 em Los Angeles, e lançada pela Peacock Records no final de fevereiro de 1953.
Foi o único disco de sucesso comercial da cantora, vendendo mais de 500.000 cópias e passando 14 semanas nas paradas de R&B, incluindo sete semanas como número um.
Hound Dog, ou cão de caça, era uma gíria negra comum para um gigolô barato, uma música amarga de uma mulher desiludida e raivosa expulsando um homem mau da sua casa e da sua vida:
You ain't nothing but a hound dog
Benn snoopin' round the door
You ain't nothing but a hound dog
Been snoopin' round my door
You can wag you tail
But I ain't gonna feed you no more
A canção foi regravada mais de 250 vezes e também é um dos singles mais vendidos de todos os tempos.
A versão mais conhecida foi gravada em julho de 1956 por Elvis Presley e vendeu cerca de dez milhões de cópias em todo o mundo, foi a sua canção mais vendida e considerada um emblema da revolução do Rock and Roll do período, foi simultaneamente o single número um nas paradas Pop, Country e R&B dos Estados Unidos em 1956 e liderou as paradas Pop por 11 semanas, um recorde que durou 36 anos.
Elvis ouviu a versão de Big Mama e gostou, mas a sua versão foi regravada a partir da reescrita por Freddie Bell & The Bell Boys, com a letra alterada significativamente até perder o sentido original:
You ain't nothin' but a hound dog
Cryin' all the time
You ain't nothin' but a hound dog
Cryin' all the time
Well, you ain't never caught a rabbit
And you ain't no friend of mine
Elvis a cantou pela primeira vez para uma audiência nacional de televisão no The Milton Berle Show em 5 de junho de 1956 e a sua dança bundando, rebolativa e sexualizada foi a primeira grande controvérsia da sua carreira, cartas de protesto inundaram a sala de correspondência do canal da NBC, os críticos chamaram a apresentação de de vulgar e vigilantes morais levantaram preocupações sobre a delinquência juvenil, até mesmo a Igreja Católica publicou um artigo de
opinião intitulado "Cuidado com Elvis Presley".
A apresentação ainda lhe rendeu o apelido de "Elvis, the Pelvis".
Na mesma década ainda, alguns anos antes e pouco mais ao sul do continente, Dámaso Pérez Prado (pianista, compositor e arranjador nascido em Cuba) tornou-se popular como líder de uma big band do Danzón-Mambo cubano e lançando em 1950 a adorável e divertidíssima "Mambo nº 5", uma música tão facilmente reconhecível quanto Hound Dog e também regravada dezenas de vezes desde então, fazendo-o entrar para a história com o apelido de "Rei do Mambo".
Voltando ao Rock and Roll e aos Estados Unidos em 1958 o guitarrista Link Wray lançou o seu blues/rock instrumental "Rumble", conhecido por seu uso pioneiro de reverberação e distorção, uma melodia corajosa e que tornou-se um grande sucesso entre os adolescentes, mas os adultos acharam o som ameaçador. Os pais e avós ficaram nervosos com a aparente sexualidade da música garantindo a façanha de ser o único som instrumental a ser banido e boicotado nas rádios do país, mesmo assim teve força e aceitação o suficiente para permanecer no top 40 por dez semanas seguidas.
Você conhece esta música, ela toca no fundo na sensacional cena do silêncio desconfortável entre o Vincent Vega (John Travolta) e a Mia Wallace (Uma Thurman) tomando milkshake no restaurante no filme "Pulp Fiction" de 1995, alguns segundos antes da mais sensacional ainda cena da dança ao som da música "You Never Can Tell" gravada por Chuck Berry em 1964, quando o Rock já era mais aceito, os negros da música popular também e uma letra tão gentil e divertida sobre um casamento de dois jovens, praticamente adolescentes que era, ufa, impossível de ser mal interpretada e censurada:
It was a teenage wedding, and the old folks wished them well
You could see that Pierre did truly love the mademoiselle
And now the young monsieur and madame have rung the chapel bell
"C'est la vie", say the old folks, it goes to show you never can tell
Curiosidade amargamente irônica, Chuck Berry compôs esta música em uma prisão federal enquanto cumpria pena por alegadamente ter feito sexo com uma menina de 14 anos e ter transportado ela além das fronteiras do estado para trabalhar como garota de chapelaria em seu clube (o que também era ilegal) em um julgamento com tons de cinza entre as linhas da lei e o racismo da justiça na época.
Ainda nos Estados Unidos já na década de 80 o incrível disco "Jazz From Hell" do tanto quanto Frank Zappa foi vendido com aviso de "cuidado, letras explícitas" nas lojas mesmo sendo inteiramente instrumental, em plena era da paranoia do PMRC (Parental Music Resource Center) e o indefectivel (sempre quis usar esta palavra) selo "PARENTAL ADVISORY - EXPLICIT LYRYCS" o que pra mim na época se traduzia como "PODE COMPRAR - SONZEIRA FODA".
Se tinha este selo, era bom.
O cubano Dámaso morreu em 14 de setembro de 1989 e quase exatos dez anos após a sua morte, em 14 de Julho de 1999, um cantor alemão de nome David Lubega Balemezi e conhecido como Lou Bega, lançou uma versão da cantada de Mambo nº 5, se tornando single número um em dezenas de países, vendendo mais de três milhões de cópias mundialmente e indicado ao prêmio Grammy.
Mal sabia que apenas dois anos depois de ser sucesso mundial, ele também seria um alvo.
E tudo por culpa de gigolôs islâmicos sonhando com 72 virgens forçando a lei do retorno.
--
A lei do retorno não é implacável pela certeza da volta, mas sim por ser cíclica.
Cerca de duzentos anos atrás o Império Britânico estava com um problema inédito desde o início das grandes navegações: déficit na balança comercial.
Comprava e transportava centenas de milhares de toneladas de porcelana, chá e seda da China ao mesmo tempo em que este país não tinha interesse nenhum em comprar, importar ou consumir produtos vindos da Inglaterra ou da Europa.
Mas a cada parada nos portos chineses os comerciantes britânicos notavam um interesse muito grande e específico dos trabalhadores dos portos pelo ópio, droga extraída da papoula e na época produzida em larga escala na Índia e, para fechar o primeiro ciclo, sob domínio britânico.
Assim a rota passou a incluir navios vazios da Europa para o oriente e então carregados com temperos na Índia e ópio para a China (e também para a Europa e Estados Unidos) sem o consentimento do governo chinês e então carregar os navios com produtos chineses em direção à Inglaterra.
Décadas depois a sociedade chinesa já estava fragmentada, fragmentação causada por uma das drogas mais potentes existentes para o consumo humano e duas guerras perdidas para a Inglaterra, tendo como consequência direta a abertura de seus portos forçadamente para o comércio estrangeiro.
Em 1909 o ópio passou a ser oficialmente e gradualmente proibido no mundo inteiro através da Convenção Internacional do Ópio e o plantio de papoula começou a migrar da Índia para as áreas de fronteiras do Paquistão e também a região do Afeganistão e após a Primeira Guerra Mundial mesmo já proibida a droga se tornava popular entre as classes altas no Reino Unido e nos Estados Unidos e logo se espalharia entre as classes mais baixas.
A glamourização pelos ricos na forma de heroína em pó, injetada ou em gotas e popularizada entre os pobres na sua forma tradicional mascada, fumada ou inalada, tal qual os trabalhadores nos portos chineses.
Décadas depois e logo após a Segunda Guerra Mundial a Índia garantiu a sua independência do império britânico e engenheiros norte-americanos chegavam no Afeganistão a convite do então primeiro ministro afegão com o objetivo de desviar os rios do país para construir reservas e barragens elétricas e assim estabelecer o domínio da etnia Pashtun sobre o resto da população afegã, formada por dezenas de outras etnias e clãs minoritários.
O efeito colateral dos desvios dessas barragens foi aumentar o nível do lençol freático em diversas regiões aumentando a umidade e salinidade do solo, ambiente propício para que a papoula naturalmente começasse a se espalhar, enriquecendo assim os afegãos das etnias minoritárias e pobres que viviam na beira dos rios e lagos.
No mesmo período, exatamente em 1945 para ser mais exato, o presidente dos Estados Unidos Franklin D. Roosevelt e o rei Abdulaziz da Arábia Saudita tomaram chá durante um encontro em um navio no Grande Lago Amargo no Canal de Suez e a resultante foi a aliança dos EUA com a Arábia Saudita, especialmente o acordo para comprar petróleo e pelo controle de um importante fornecedor de energia durante a era da Guerra Fria com a Arábia Saudita ganhando riqueza e segurança em troca.
Parte do acordo previu e garantiu que a Arábia Saudita pudesse continuar sua interpretação violenta e fundamentalista do Islã, conhecida comoo Wahhabismo, fundada pelo estudioso árabe Muhammad ibn Abd al-Wahhab no século XVIII e descrita pelos devotos como ortodoxa, puritana e revolucionária e como um movimento de reforma islâmico para restaurar a adoração monoteísta pura.
Após a descoberta de petróleo perto do Golfo Pérsico em 1939 a Arábia Saudita teve acesso às receitas de exportação de petróleo na ordem de bilhões de dólares e boa parte deste dinheiro foi gasta em livros, mídia, escolas, universidades, mesquitas, bolsas de estudos, empregos lucrativos para jornalistas, acadêmicos e estudiosos islâmicos alinhados aos ideais wahhabi e garantindo uma posição de força no Islã em todo o mundo.
Mais algumas décadas e a União Soviética invadiria o Afeganistão impondo uma reforma agrária e uma pretensa distribuição igualitária cujo único resultado foi gerar um ciclo de tensões e rancores entre as tribos e aldeias quando cada grupo começou a considerar que a outra tribo ou aldeia recebera uma parte melhor e mais lucrativa da partilha de terras imposta pelos soviéticos, notadamente as mais próximas dos rios e lençóis freáticos ricos em plantios de papoula.
E assim os Estados Unidos entraram diretamente na briga armando os hoje famosos guerilheiros Mujaheddin, também em sua maioria da etnia Pashtun, para lutar contra os soviéticos e tentar estabelecer em teoria o mínimo de independência no país, na verdade criando um novo Vietnã e apenas mais uma das guerras por procuração da era da Guerra Fria.
Após a desistência e fuga da União Soviética os Estados Unidos também abandonaram o país largado na própria sorte com um grupo étnico majoritário armado em um país cada vez mais instável e dividido por brigas não só antigas mas agora novas impostas por países que foram lá forçar a sua visão de mundo gerando uma sequência de décadas de guerras civis durando até os dias de hoje, uma prova de como a política de cortar cabeças para resolver dores de cabeça gera
mais dores de cabeça ainda e no caso do Afeganistão, três dores, pois o movimento mujaheddin se tornou uma Hidra (ou Cérbero, dependendo da sua interpretação) de dissidentes formando a Al-Qaeda, o Talibã e um pouco mais tarde, o ISIS.
E aí a lei do retorno apareceu para fechar o seu ciclo no dia 11 de Setembro de 2001 quando foi lançado o péssimo filme "Atendados de 11 de Setembro" com atores estrangeiros e logo depois no dia 20 de Março de 2003 saiu a sequência "Em Busca de Armas de Destruição em Massa no Iraque - A Vingança" cujo roteiro atrapalhado e confuso mostrou apenas atores americanos não achando arma de destruição em massa nenhuma e invadindo e saqueando apenas os museus do país.
Neste mesmo período o exército norte-americano estreou um novo monstrinho cinematográfico no seu arsenal, chamado HIIDE, cuja função era identificar através de dados biométricos quem era terrorista e quem não era, mas como os terroristas naturalmente não apareciam para se cadastrar ou só eram encontrados misteriosamente mortos o HIIDE foi usado em parte da população civil cadastrando os cidadãos em cooperação com os Estados Unidos, denunciando membros ou bases do Talibã escondidos nas vilas e cidades.
Mas se não é tão fácil saber qual barbado banguela de turbante é terrorista ou não, confiar no relato de aldeões é mais difícil ainda pois se tornou hábito entre eles usar o exército norte-americano como uma espécie de tribunal de pequenas causas comandado por pistoleiros de aluguel.
Além do mais a desconfiança era mútua, os aldeões afegãos não gostavam nem um pouco da presença de oficiais do exército e menos ainda dos oficiais de exércitos privados americanos atuando na região, apelidados de "talibãs americanos" porque também "eram barbados e apareciam de noite".
Em outras palavras os aldeões não necessariamente denunciavam quem era terrorista talibã, mas denunciavam como talibãs os seus concorrentes ou desafetos pessoais com o objetivo de tomar deles as suas posses, casas, terras, animais e... plantações de papoula.
Se você ainda não entendeu a piada pronta e a surrealidade da situação, desde os atendados de 11 de Setembro em 2001 os soldados norte-americanos passaram 20 anos seguidos remarcando involuntariamente terras da reforma agrária soviética e trabalhando como juízes, delegados e carrascos a serviço de velhos traficantes rancorosos, prendendo e assassinando talibãs que de fato nunca foram talibãs mas em boa parte agricultores, e traficantes, bem sucedidos.
Como a lei do retorno é inescapável e cíclica e nada em geopolítica é por acaso em 2021 os mesmos soldados (ou pelo menos, do mesmo país) deixaram para trás todas essas informações em poder dos verdadeiros talibãs que agora possuem um registro completo e atualizado com fotos, impressões digitais, scanners de retina e amostras de DNA de quem se opôs ao regime imposto por eles mesmo que estes, olha a surrealidade de novo, possivelmente nunca denunciaram um talibã de verdade.
A lei do retorno é cíclica.
A prisão de Guantánamo em Cuba deveria ser considerado o primeiro e maior presídio verdadeiramente agrícola da história, e o roteiro acima poderia facilmente estrear uma versão internacional do Tropa de Elite ou pelo menos um álbum inteiro do Bezerra da Silva ou dos Racionais MC's sobre dedos-duros, intrigas de vizinhos e, com o perdão da ironia, aviõezinhos do tráfico.
Não foi incompetência norte-americana, não foi acidente e nem esquecimento no calor do momento da partida, foi proposital, quanto mais no caos vive um país e mais o seu povo guerreia entre si mais rápido ele cede para pressões e ordens externas, mais fragmentada vive a sua sociedade e mais fácil é controlar os seus recursos naturais e meios de produção e assim o Afeganistão se tornou mais um daqueles países acostumados a nem construir memoriais em homenagens aos mortos da guerra anterior pois sabem que logo será destruído na guerra atual ou na próxima.
Não existe #remember no Afeganistão.
A regra básica do conhecimento ensina a não julgar um povo pela história que nos chega de graça, pelo pouco que sei sobre o Afeganistão os períodos de maior calma e tolerância política e religiosa na história recente no país me pareceram justamente os períodos sem interferência externa, longe de russos, britânicos e norte-americanos e longe de embargos, sanções e bombas.
Em tempos de paz o secularismo tende a surgir naturalmente.
Um país de fronteiras falsas determinadas por políticas falsas de falsas tentativas de levar a democracia, essa ideologia simplória cujo único objetivo prático é dividir e dominar as pessoas através da oposição controlada e separadas entre esquerda e direita e guerreando entre si enquanto uma verdadeira elite, sem nome, sem rosto, sem bandeira e sem fronteira (e que nunca precisou de votos ou dar discurso na televisão) lucra com os dois lados de qualquer guerra, seja ela religiosa, militar ou étnica e também através da lavagem de dinheiro do tráfico de drogas internacional sendo o ópio a mais lucrativa de todas elas, um mercado de quase 100 bilhões de dólares por ano.
E claro, como todo crime além das fronteiras dos países, é comandado por quem pode pagar e executado por quem não pode abrir mão do dinheiro, que financia o terrorismo, que ataca os Estados Unidos, que justificam os gastos militares para atacar os terroristas, que mantém o controle sobre o país, que mantém o fluxo e o transporte da droga para fora dele, fechando mais um ciclo.
É um trabalho sujo, mas pelo jeito alguém precisa fazer.
E alguém também precisa escoltar mar afora esses navios com milhares de toneladas de ópio e heroína certo?
Não é a primeira vez que líderes mundiais a serviço da elite da indústria armamentista e sistema bancário se alternam jogando pessoas contra pessoas a favor dos seus próprios interesses (na verdade essa é a verdadeira política) e nem a primeira vez que ocorre uma False Flag na história (existem relatos na Grécia antiga, no Império Romano e até mesmo nas mitologias egípcias e judaico-cristãs) mas essa é com certeza uma das mais escancaradas e vergonhosas, filmada ao vivo e a cores, e um Cavalo de Tróia que o próprio governo norte-americano deu de presente para o seu próprio povo.
E também não foi a primeira vez.
Tanto faz se foi terrorismo, trabalho interno ou terrorismo a mando ou como consequência ou efeito colateral de trabalho interno, de fato o 11 de Setembro foi no mínimo causado pelo próprio dinheiro e modus operandi político e expansionista norte-americano, a serviço de um sistema acostumado a tratar pessoas por números e contar esses números aos milhares e milhões.
"A guerra não foi feita para ser vencida, ele deve ser contínua. O ato essencial da guerra moderna é a destruição da produção do trabalho humano.
Uma sociedade hierárquica só é possível com base na pobreza e na ignorância.
Em princípio, o esforço de guerra é sempre planejado para manter a sociedade à beira da fome. A guerra é travada pelo grupo dominante contra seus próprios súditos e seu objetivo não é a vitória sobre a Eurásia ou a Lestásia, mas manter a própria estrutura da sociedade intacta."
- George Orwell, 1984.
--
O 11 de Setembro de 2001 marca o início do fim de um ciclo: o século do ocidente e do imperialismo britânico e norte-americano, um processo bastante acelerado nos últimos vinte anos e mais ainda, no último ano.
E como o tema é a lei do retorno mais um ciclo se fecha e após décadas (quase séculos) de interferência britânica, russa e norte-americana no Afeganistão agora é a vez da China passar a controlar a produção, o comércio e rotas do ópio, das terras salgadas afegãs para o ocidente.
E exatamente como duzentos anos atrás, e exatamente neste momento, navios saem vazios em direção ao oriente chegam cheios nas costas dos Estados Unidos.
Americanos são estranhos, não passam de gigolôs batendo na porta dos outros e choramingando pelos cantos e a troca de poderes já está sendo negociada.
O próximo século será russo, árabe e chinês, sai enfim o Império Romano pela diluição e voltam o czarismo, o Império Otomano e as dinastias chinesas pela pressão, pois na visão desses povos nada está sendo conquistado mas sim tomado de volta.
E sim, após a primeira revolução industrial do ferro e do carvão, a segunda revolução industrial do petróleo e da energia elétrica e a terceira revolução industrial da tecnologia e internet estamos enfim entrando na quarta revolução industrial, um processo aceleradíssimo que trará muita destruição e novamente, extinção.
Mas calma, já passamos por isso antes e vamos sobreviver, a humanidade é maior e está acima dos nossos dramas mesquinhos, medos ou problemas atuais e todo período de renovação precisa passar antes por um fim, o único pensamento a unir todas as mitologias, religiões e filosofias não é por acaso.
Toda ação tem uma reação, toda reação tem um retorno, e todo retorno é um novo começo.
--
Por falar em Hound Dog literalmente e felizmente a primeira imagem que aparece quando você escreve "afegão" no Google Images é um lindíssimo Afghan Hound, o Galgo Afegão, cachorro mais leal e inteligente que o exército dos EUA e mais bonito, alegre e cheiroso que um talibã destreinado.
Duzentos e tantos anos atrás enquanto forçava os portos chineses a comprar ópio o Império Britânico também travou três guerras com o Afeganistão numa tentativa de reduzir a influência do então Império Russo nas proximidades da Índia.
Os resultados destes três conflitos foram, na sequência: uma surra, uma vitória com a garantia de política externa comandada pelos britânicos e por fim um acordo de delimitação de fronteiras e a soberania do Afeganistão como um estado independente em 1919.
Depois disso os próprios britânicos passaram a brigar entre si para decidir qual cão era mais bonito: o afegão das planícies, mais magro e com pelagem mais curta ou o afegão das montanhas, mais alto e cabeludo.
Decidiram pelo cruzamento dos dois, resultando no atual galgo bonitão parecido com um hippie de banho tomado ou um ex-guitarrista de alguma banda dos anos 80, de onde podemos concluir também que essa raça também sabe fazer política, pois a cada guerra os soldados britânicos voltavam com cães da raça para a Inglaterra e não há tratado que delimite ou resista a um grande, alegre e diplomático rabo peludo abanando.
--
É comum as pessoas dizerem lembrar perfeitamente o que estavam fazendo na manhã do dia 11 de Setembro de 2001.
Aqui no Brasil muitas disseram estar assistindo Dragon Ball Z na televisão quando dois aviões atingiram o World Trade Center no dia 11 de setembro de 2001 em Nova York, quando a transmissão foi interrompida para anunciar o atentado às torres gêmeas. Na verdade não houve em canal algum transmissão do desenho naquele dia e hora, denunciando um dos casos mais bizarros de Efeito Mandela e com origem completamente irrastreável.
Eu também lembro desta manhã, e infelizmente minhas lembranças são tão vívidas quanto turvas.
No dia 08 de setembro eu e a minha namorada na época estávamos saindo do saudoso clube Mix Café do centro de Florianópolis em uma madrugada de sexta para sábado e subindo a pé a Avenida Mauro Ramos em direção a um ponto de táxi quando na esquina do colégio Instituto Estadual um assaltante apareceu do nada e atacou ela, por impulso dei um soco nele e outro assaltante me atacou por trás.
Por uma estranha e ridícula sorte do destino era a hora exata da ronda da polícia militar na região e a minha única lembrança após a pancada na cabeça foi uma mistura de gritos e talvez sirenes, o brilho do giroflex da viatura, o bandido que eu dei um soco caindo junto comigo, os pneus de um carro e a calçada.
Minha namorada jurou que eu não dormi nem um segundo e ficava de olhos abertos e falando o tempo todo, mas a minha primeira lembrança após o assalto já era no domingo à noite, tomando ansiolítico para controlar a tontura e sabendo que ficaria a semana toda de atestado médico em casa.
Na terça-feira dia 11 acordei cedo e quando liguei a TV o Dragon Ball Z já havia sido interrompido e ambas as torres já estavam pegando fogo e uma delas desabou enquanto eu tropeçava em alguma meia hora de esforço para conseguir chegar até a cozinha ou ao banheiro.
No segundo desabamento eu já estava comendo Sucrilhos, porque é assim que se assiste filme, desenho ou desgraça na TV de manhã.
Quando enfim comecei a entender o acontecido pensei apenas que ninguém faria isto de graça e perto do almoço dois ou três amigos me ligaram pra saber se eu estava vendo a TV e só depois perguntaram se eu estava bem, o meu assalto já não era mais o assunto do momento.
Mas a lição ficou: não reajam a assaltos e não acreditem em terroristas ou políticos.
--
Décadas depois da Ribs Recordings e do outro lado do oceano (seja Atântico, seja Pacífico) a Clear Channel Communications (agora iHeartMedia), a maior proprietária de estações de rádio nos Estados Unidos, circulou um memorando interno contendo uma lista de músicas que os diretores consideravam "liricamente questionáveis" para tocar após ataques de 11 de setembro de 2001, documento conhecido como Clear Channel Memorandum.
A lista não era uma exigência explícita para não tocar as músicas listadas, mas sim uma sugestão de que eles "talvez não queiram tocar estas músicas" e foi divulgada pelo boletim independente da indústria de rádio Hits Daily Double, que não era afiliado à iHeartMedia.
A lista continha 165 sugestões, incluindo uma única sugestão para todas as músicas de todo o catálogo da banda Rage Against the Machine na época (49 músicas) e covers de algumas músicas como "Knockin' on Heaven's Door" de Bob Dylan e a versão do Guns N' Roses) e em outros casos apenas os covers foram incluídos na lista por exemplo, o cover de "Smooth Criminal" de Alien Ant Farm apareceu na lista enquanto a gravação original de Michael Jackson não estava.
A ideia do memorando era marcar as músicas que em seus títulos ou letras referem-se vagamente a assuntos entrelaçados com os ataques de 11 de setembro como aviões, colisões, morte, conflito, violência, explosões, o mês de setembro e a cidade de Nova York, bem como conceitos gerais que poderiam estar ligados a aspectos dos ataques, como queda do céu e armas.
Também foram incluídas várias canções alegres e comemorativas (incluindo "What a Wonderful World" de Louis Armstrong ), já que o Clear Channel acreditava que tocar música alegre e otimista após os ataques também era inapropriado.
Outras bandas e respectivas músicas incluem (você está tão autorizado a rir histericamente quanto eu ri pesquisando esta lista):
311
- Down
AC/DC
- Dirty Deeds Done Dirt Cheap
- Hells Bells
- Highway to Hell
- Safe in New York City
- Shoot to Thrill
- Shot Down in Flames
- T.N.T.
Alice in Chains
- Down in a Hole
- Rooster
- Sea of Sorrow
- Them Bones
Beastie Boys
- Sabotage
- Sure Shot
Blue Öyster Cult
- Burnin' for You
Dio
- Holy Diver
Fontella Bass
- Rescue Me
Foo Fighters
-Learn to Fly
Frank Sinatra
- New York, New York
Guns 'N' Roses
- Knockin' on Heaven's Door
Jerry Lee Lewis
- Great Balls of Fire
John Lennon
- Imagine
Led Zeppelin
- Stairway to Heaven
Lenny Kravitz
- Fly Away
Limp Bizkit
- Break Stuff
Metallica
- Enter Sandman
- Fade to Black
- Harvester of Sorrow
- Seek & Destroy
Neil Diamond
- America
Ozzy Osbourne
- Suicide Solution
Rage Against the Machine
- All songs
R.E.M.
- It's the End of the World as We Know It (And I Feel Fine)
The Animals
- We Gotta Get Out of This Place
The Beatles
- A Day in the Life
- Lucy in the Sky with Diamonds
- Ob-La-Di, Ob-La-Da
- Ticket to Ride"
The Doors
- The End
U2
- Sunday Bloody Sunday
Van Halen
- Jump
- Dancing in the Street
Como você pode perceber de acordo com os burocratas do governo e da mídia nenhuma música poderia ser triste demais mas também não poderia ser alegre demais.
O fato de todas as músicas do Rage Against the Machine estarem na lista se deve provavelmente ao fato de que elas te deixam triste e feliz ao mesmo tempo, com vontade de gritar e pular.
Conta-se que no Reino Unido a BBC republicou a lista ou fez outra lista semelhante incluindo artistas e sucessos locais e até mesmo a versão cantada de Mambo nº 5.
Que a rainha não sabia sambar não é novidade mas porra dona, nem um mambozinho?
Talvez tenha sido a letra abertamente poligâmica, nível terrorista islâmico, listando quase 72 virgens:
A little bit of Monica in my life
A little bit of Erica by my side
A little bit of Rita's all I need
A little bit of Tina's what I see
A little bit of Sandra in the sun
A little bit of Mary all night long
A little bit of Jessica, here I am
A little bit of you makes me your man (ah)
Mas talvez tenha sido esta passagem premonitória da letra sobre os atentados:
Jump up and down and move it all around
Shake your head to the sound
Put your hand on the ground
Take one step left and one step right
One to the front and one to the side
Clap your hand once and clap your hands twice
And if it looks like this then you're doing it right
Meu Deus, Lou Bega previu os atentados de 11 de Setembro dois anos antes.
Não pode bundar, não pode peru, não pode chamar de gostosa nem de tesão, não pode Rock nem Mambo e nenhuma do Rage Against the Machine, mas trucidar não há problema.
Por falar em trucidar precisamos falar sobre a Pepsi novamente, mas antes vamos falar do tipinho mais vazio e sem graça que resto de Coca-Cola no final de aniversário da história da geopolítica mundial: Richard Nixon.
E ele literalmente acabou com a nossa festa.
--
A título de curiosidade, Hound Dog e Mambo nº 5 possuem exatamente o mesmo BPM, 87 para ser exato, e ambas seguem o mesmo cadenciamento, parecidíssimas com o ritmo do Charleston dos anos 20 norte-americanos.
--
Sixto Rodriguez também teve seu episódio de censura muito antes de fazer sucesso e também teve uma música sua, Sugar Man (justamente a primeira música do disco), riscada pelos censores do governo do apartheid da África do Sul pro causa da sua letra abertamente sobre drogas, embora nem de longe pudesse ser considerada apologia:
Sugar man, won't you hurry
'Cos i'm tired of these scenes
For a blue coin won't you bring back
All those colors to my dreams.
Silver magic ships you carry
Jumpers, coke, sweet mary jane
--
Cápsulas do tempo.
--
Fomos para Urubici e ficamos mais dez dias sem internet, matamos mais um boi e trocamos um pneu no meio de um mangue que nem existe na região.
Ninguém mandou pedir para dirigir.
Bati meu recorde de pinhão na chapa e voltamos com a certeza de que a felicidade está em uma fogueira no frio e gente feliz com o nariz escorrendo em volta.
Onde há fumaça há fogo, onde há fogo tem de ter pinhão, e onde tem pinhão há alegria.
--
Hoje faz 10 anos que o Rafael Braga foi preso, naquele dia que o gigante acordou, batucou e bateu selfie e adormeceu antes do país mudar.
--
O Queens of the Stone Age lançou disco novo, com sua licença.
--
Comments