ENSAIO 40: DEZESSETE
- LFMontag

- 24 de ago. de 2023
- 7 min de leitura
Atualizado: 23 de ago.

Foto: Ayrton Cruz
Se você está aqui pela primeira vez este ensaio faz parte de um livro sendo escrito em tempo real seguindo a narrativa do fluxo de consciência, se te interessar acompanhar o processo comece pelo primeiro.
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25/09/2023
DEZESSETE
Arrume uma conspiração para chamar de sua.
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O 17 é um número curioso.
De acordo com a Wikipedia o número 17 é o número natural que segue o 16 e precede o 18 (estou chocado) e também o sétimo número primo depois do 13 e antes do 19, tradicionalmente considerado um número aziago (que traz má sorte, de mau agouro, azarento, infausto, nefasto), pois um anagrama de seu número romano XVII é VIXI, que em latim significa "eu vivi" ou seja, "estou morto".
Mas na Cabala por exemplo o 17 é considerado um número de boa sorte por ser a soma das letras hebraica têt (9), waw (6) e bêth (2), formando a palavra Tóv, que significa "bem".
Azar ou não, outras coisas mais curiosas ainda podem ser ditas sobre este número.
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O Dilúvio na bíblia começou no dia em que Noé completou seiscentos anos, um mês e dezessete dias de vida, e no décimo sétimo dia do sétimo mês do ano de 601 a Arca de Noé estacionou sobre as montanhas de Ararat, na atual Turquia.

Dezessete também é o número atômico do Cloro e também é um ano antes de você fazer 18 anos, quando então você já pode ser preso.
Na numerologia o número 17 simboliza a autodisciplina, compaixão, responsabilidade, consciência espiritual e sabedoria e também pode representar viajantes frequentes, que viajam a trabalho ou a lazer.
Simboliza pessoas suaves e fortes ao mesmo tempo, independentes e trabalhadoras e possuem respeito por todas as pessoas independentemente de sua condição social ou financeira e desejam melhorar o mundo de alguma forma, possuem qualidades de líder e deixam uma forte impressão nos outros, são propensas a assumir riscos em todas as áreas de sua vida, seja escola, esportes e negócios e também são frequentemente encontradas em profissões relacionadas ao poder, como a política, mas também podem ser mimadas, intensas e difíceis de conviver e vivem em busca constante de aprovação, incluindo você, burro o suficiente para acreditar nestas coisas mesmo sabendo que estas mesmas definições se encaixam em qualquer pessoa e em qualquer número que se queira encaixar.
Inclusive você pode perfeitamente enrolar uma pessoa usando apenas 17 palavras de 17 letras cada, por exemplo:
Concomitantemente e impreterivelmente, independentemente da contemporaneidade e contingenciamento da incompatibilidade, a indisponibilidade preferencialmente da complementaridade e ininterruptamente a descriminalização da intertextualidade pseudointelectual, involuntariamente a imprevisibilidade é irremediavelmente e parcimoniosamente mais uma frase inútil que você leu até o fim.
O número 17 é uma mistura do número 1 e do número 7 cuja soma é o número 8, o número de Karma e ao mesmo tempo símbolo do infinito, logo o karma é para sempre.
Dezessete também são os Aurelianos, filhos do Coronel Aureliano Buendía, batizados e adotados por Úrsula Iguarán, cada qual com sua cruz de cinzas na testa que nunca borram nem apagam, cada um filho de uma mulher diferente com as quais Aureliando Buendía passou apenas uma noite , 17 filhos que Úrsula deu o mesmo nome, e todos foram assassinados, no livro Cem Anos de Solidão, do escritor Gabriel García Marquez

O 17 também entrou para o folclore a para a política norte-americana através da letra Q, a décima sétima letra do alfabeto e símbolo do movimento QAnon, quando um usuário do site de anônimos malucos 4chan chamado Q Clearance Patriot apareceu pela primeira vez em 28 de outubro de 2017, postando um tópico intitulado "Calm Before the Storm", uma frase que o então presidente Donald Trump havia usado anteriormente para descrever uma reunião de líderes militares americanos.
A tal tempestade mais tarde se tornou jargão do grupo QAnon e nome de um suposto evento iminente no qual milhares de supostos suspeitos seriam detidos, encarcerados e executados por pertencerem a uma elite de pedófilos, comedores de crianças e bebedores do sangue delas.
No segundo semestre de 2020 a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos votou pela condenação do grupo, classificando como ameaça da paz e da ordem e conspiracionistas, mas 17 representantes republicanos opuseram-se à resolução.
Alguns meses depois, em 06 de janeiro de 2021 (2 + 0 + 21 - 6 = 17), acontecia a sessão para certificar a vitória do presidente eleito Joe Biden nas eleições presidenciais, uma formalidade na qual os votos do Colégio Eleitoral são apenas contados pelo vice-presidente diante dos parlamentares, dia em que apoiadores de Donald Trump invadiram o Capitólio, muitos com cartazes mostrando a letra Q e símbolos e frases ligados ao movimento.
Senadores e deputados foram retirados do local e levados a uma área segura e o vice-presidente Mike Pence que presidia a sessão foi retirado do prédio, houve vandalismo e gás lacrimogêneo e tiros disparados pela polícia, resultando na morte de cinco pessoas.
Jacob Chansley, conhecido por ter usado chifres durante a invasão do congresso americano em 06 de janeiro se tornou símbolo da suposta revolução e antes mesmo de acabar o dia se tornou símbolo da vergonha, de viking da liberdade para go-go boy da democracia.

A tal tempestade não veio, a não ser a que eu mesmo tomei meses depois de 17 raios contados, e felizmente não vimos nenhum viking no horizonte.
No fim, desde o início esse movimento poderia ter se chamado QAnnoying, quando a esfera política de extrema-direita americana em 2017 provou ser tão capaz da histeria até então típica da esquerda no país, mesmo ano em que Jaíro Bolsonáro despontou como forte candidato à presidência do Brasil, candidatura a qual disputou usando o número 17, sendo eleito e, exatamente como nos EUA, foi influência e em certa parte responsável pelos histéricos de direita nacionais (somada à nossa mania de imitar modas ruins do primeiro mundo) que também invadiram o nosso Capitólio, de forma um tanto mais escandalosa e arruaceira, resultando também em prisões e muita vergonha alheia. Nenhum viking, mas cornos de sobra.
E por falar em Estados Unidos e conflitos (e 17), 17 também são as terras raras, grupo de 17 elementos químicos metálicos da tabela periódica, muito importantes para a tecnologia moderna e apesar do nome não são exatamente raros e estão relativamente espalhados pela crosta terrestre, mas em baixas concentrações e raramente concentrados em jazidas de fácil exploração.
A maioria está no grupo dos lantanídeos de números atômicos 57 a 71 (lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio e lutécio), além do ítrio (39) e do escândio (21), que apresentam propriedades químicas semelhantes.
São usados em praticamente tudo ao redor da sua vida, olhe para o lado e lá eles estarão: ligas metálicas leves e resistentes para aeronáutica, lâmpadas de haleto metálico, fósforos de telas e LEDs, supercondutores, lasers médicos e industriais, lentes de câmeras e telescópios, baterias de carros híbridos, catalisadores automotivos, polimento de vidros, semicondutores, ímãs superfortes para fones, discos rígidos, turbinas eólicas e motores de veículos elétricos, reatores nucleares, sistemas de segurança em cédulas com tintas fluorescentes, exames de ressonância magnética, detectores de nêutrons, cabos de fibra óptica, lasers odontológicos, lasers cirúrgicos, aparelhos de raio X portáteis, relógios atômicos, detectores PET, refino de petróleo, além de usos em pesquisas médicas, geração de energia limpa e no setor militar de alta tecnologia.
Hoje o país que mais consome esses elementos são os Estados Unidos e a China domina a extração, produção e o refino, criando uma dependência bizarra entre dois países informalmente inimigos, principalmente em setores estratégicos como tecnologia, defesa e energia, aumentando a disputa comercial e militar entre ambos.
Em outras palavras, dependem um do outro para poderem continuar guerreando entre si.
O Brasil, que possui a segunda maior reserva mundial desses minerais, ainda não consegue competir nesse mercado pois falta tecnologia própria para extraí-los e refiná-los, o que coloca nós novamente na eterna posição de país onde plantando tudo dá mas nada se produz.
O 17 também é o número-símbolo das maravilhosas cigarras periódicas (do gênero Magicicada), acostumadas a passar a vida toda embaixo da terra para saírem em seu décimo sétimo ano de vida todas ao mesmo tempo, para acasalar.
Literalmente um filme de adolescentes norte-americanos.
Na copa das árvores apenas os machos cantam e se as fêmeas gostam batem as asas e então a algazarra começa.
Em seguida as cigarras fêmeas mudam-se para pequenos galhos onde colocam ovos que semanas depois caem fertilizando as próprias plantas de onde foram gerados.
Estas ninfas quicam duas vezes e se enterram no subsolo, onde ficam então por outros 17 anos.

17 anos também é a idade de Ginger, o leão selvagem mais velho já conhecido e que vive na Zâmbia, desafiando as leis da natureza e da sobrevivência num mundo onde a maioria dos leões machos selvagens não vive além dos 10 anos.
Com patas tortas e dentes gastos incapazes de caçar e morder com agilidade e lento demais para competir até mesmo carcaças com hienas (e a juba dourada desbotada e o rosto marcado por cicatrizes e olhos enfraquecidos e possivelmente cegos para perceber perfis e proximidade, tão essenciais na sua espécie) Ginger já foi líder de uma coalizão de três machos no oeste do Zambeze e, depois de ser deposto e viver sozinho por anos, Ginger foi mais tarde aceito em um grupo liderado pelos seus próprios filhos.
Sim, isso mesmo, numa natureza onde os laços de sangue não garantem misericórdia, seus filhotes o acolheram de volta.
Isso não é apenas raro, é lendário.

E por falar em quicar, e só para encerrar, o navio Príncipe das Astúrias saiu de Barcelona no dia 17 de Fevereiro de 1916 para uma viagem que duraria 17 dias.

Eu não disse nada, eu não quis dizer nada, 17 é apenas um número como qualquer outro, o acaso me fez contar 17 raios mas poderiam ter sido 13 e você mesmo pode inventar uma conspiração para chamar de sua.
E por falar em jornada do herói e em 17, muitos vencem pelo oposto ao cansaço.
E entram para a história por motivos divertidamente estranhos.
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Cápsulas do tempo.
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O mês de setembro foi musicalmente doce-amargo, vimos a Demi Lovato gigante para uma plateia gigante na primeira noite da primeira edição do festival The Town logo após conseguirmos ver nosso diamante Hermeto Paschoal e logo antes do nosso tesouro Racionais MC's.
Mas desistimos dos outros dias porque o Queens of the Stone Age cancelou.
Iríamos ao Coala Festival, mas ainda em julho nosso querido João Donato faleceu e a sua tão esperada apresentação com o Martinho da Vila foi cancelada.
Fim do mês teria Morrissey, mas o maldito pegou dengue em alguma fronteira sul-americana e cancelou o show no Brasil também.
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Urgente: a Sandy acabou de se separar do Lucas Lima, após 15 anos casados.
Tô te falando, a Terceira Guerra Mundial está a todo vapor, mas as pessoas vão falar que é conspiração da minha parte.
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