Foto: Lucas Miró Horn
Se você está aqui pela primeira vez este ensaio faz parte de um livro sendo escrito em tempo real seguindo a narrativa do fluxo de consciência, se te interessar acompanhar o processo comece pelo primeiro.
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29/10/2024
MELISSA
Toda hora é hora de desfilar e, se necessário, até mesmo saltar.
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Do you think God stays in heaven because he, too, lives in fear of what he's created?
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Strumming my pain with his fingers
Singing my life with his words
Killing me softly with his song
Killing me softly with his song
Telling my whole life with his words
Killing me softly with his song
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If I stand around and watch them drown in a pool of gray.
When we dive in, I can surely say there's feud with force.
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Três grandes livros, nenhum deles religioso embora todos sejam milagrosos de alguma forma, Ahab não sobreviveu para contar a sua versão, Thurston sobreviveu mas aterrorizado por toda a vida e Santiago trouxe uma conquista vazia que trouxe um novo sentido para a sua existência.
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Crentes acreditam na existência de Deus e muitos em uma manifestação delirante do ego até mesmo juram conversar com Ele.
Ateus não acreditam na existência de um ser superior e ainda dizem conseguir provar a sua inexistência, algo igualmente delirante pois tentar provar a inexistência de algo é reconhecer a sua existência e mesmo se fosse possível os primeiros continuariam acreditando e colocariam outro Deus no lugar.
Eu tenho uma versão um tanto mais divertida para esta questão, Deus simplesmente foi embora e fica lá em cima no céu porque se arrependeu e tem medo da sua criação, e se a água do mar é tão salgada quanto as lágrimas pode-se deduzir que, no sétimo dia, Deus chorou bastante.
Alguma coisa nas mitologias antigas parece concordar comigo, gregos, romanos, fenícios, babilônicos, vikings e até mesmo na Bíblia.
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Na linda e leve música "Killing Me Softly with His Song" ninguém morre e nenhum assassinato ocorre.
A inspiração surgiu após a compositora Lori Lieberman, então com 19 anos, assistir um show do cantor folk Don McLean e transmite a ideia de uma música ser tão linda e uma performance tão marcante a ponto de atravessar a barreira sensorial do organismo, processo o qual chamamos de sinestesia, como sentir o gosto de uma cor ou, no caso da música, sentir a pele arrepiar.
Em 1973 a versão da cantora Roberta Flack tornou-se um hit número um nos Estados Unidos e vendeu mais de dez milhões de cópias no mundo inteiro.
Na incrível e pesada música "Seabeast" do disco "Leviathan" da banda Mastodon todo mundo está vivo, por enquanto.
Queequeg conhece Ahab e já é amigo e Ishmael, todos personagens do livro Moby Dick do escritor Herman Melville, e já cientes de que as obsessões de Ahab trarão um fim trágico para todos.
Na mitologia fenícia, Leviatã apresenta-se como Lotan, um monstro marinho de sete cabeças representando as forças maléficas e na mitologia babilônica Leviatã representa o mar, vencido e submetido a Deus no fim dos tempos e na mitologia bíblica, o mesmo Leviatã é o rei dos soberbos, uma alegoria da luta entre Deus e o mal, representando forças e símbolo do caos primordial que também serão derrotadas no fim dos tempos.
O nome deriva de "livyatan" no hebraico, e significa algo como "serpente retorcida", um monstro marinho colossal, simbolizando o caos e a força indomável da natureza.
Na mitologia greco-romana e praticamente na mesma época temos algo próximo de Leviatã mas um pouco mais assustadora, a Hidra de Lerna, que além de ter sete cabeças (sendo uma delas imortal) possuía hálito e sangue venenosos e para cada enfrentamento e cabeça cortada nasceriam duas no mesmo lugar.
De acordo com a lenda Hércules com a ajuda de seu sobrinho Iolau conseguiu derrotá-la queimando os pescoços cortados impedindo o surgimento de novas cabeças e enterrando a cabeça imortal, uma metáfora sobre engenhosidade e cooperatividade em resolver problemas complexos pois ao tentar apenas extirpar um geraria mais problemas.
Na mitologia nórdica, a criatura marítima mais próxima ao conceito de Leviatã é Jörmungandr, também conhecido como a Serpente de Midgard, um enorme ser lançado ao oceano por Odin e crescendo tanto até conseguir circundar toda a Terra e morder o próprio rabo, tornando-se um símbolo de ciclos e equilíbrio cósmico.
Além de Jörmungandr o imaginário escandinavo também inclui monstros marítimos como o Kraken, uma gigantesca criatura com tentáculos capaz de afundar navios, embora este mito tenha origens mais tardias e provavelmente seja uma fusão de lendas nórdicas com outras tradições marítimas europeias.
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Moby Dick, escrito por Herman Melville e publicado em 1851, é uma obra-prima da literatura norte-americana, misturando aventura, alegoria filosófica e reflexão sobre a obsessão e os limites humanos, narrada em primeira pessoa pelo marinheiro Ishmael a bordo do navio baleeiro Pequod, comandado pelo Capitão Ahab.
Pouco antes da viagem Ishmael conhece Queequeg, um arpoeiro polinésio, e os dois se tornam amigos e embarcam juntos no Pequod em uma viagem que de início seria apenas de caçar baleias mas o Capitão Ahab tem uma obsessão pessoal pela gigantesca baleia branca Moby Dick, que lhe arrancou uma perna em uma expedição anterior.
Ahab quer encontrar a baleia e se vingar a qualquer custo, atravessando oceanos e arrastando a tripulação em sua jornada até encontrar Moby Dick e travar uma perseguição e batalha de três dias, matando vários tripulantes até o último confronto quando o Capitão Ahab consegue arpoar a criatura, que dá uma volta rápida em torno do Pequod com o cabo do arpão, prendendo e destruindo completamente o navio.
Ahab então é arrastado para o fundo do mar preso ao próprio cabo do arpão, Ishmael é o único sobrevivente e eventualmente resgatado por um navio chamado Rachel.
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O Chamado de Cthulhu do escritor norte-americano H.P. Lovecraft foi publicado em 1928, uma história apresentada como um relato fragmentado dividido em três seções, narrada por Francis Wayland Thurston, um pesquisador que tenta entender uma série de eventos perturbadores e aparentemente conectados:
O Horror em Argila: Thurston descobre documentos deixados por seu falecido tio, o professor Angell, com informações sobre uma estranha escultura de argila representando uma entidade monstruosa e extraterrestre: Cthulhu.
A escultura está ligada a sonhos perturbadores relatados por diferentes pessoas ao redor do mundo.
O Relato do Inspetor Legrasse: Um policial, Legrasse, consulta Angell sobre um estranho culto que ele descobriu em uma floresta na Louisiana, os membros do culto veneram Cthulhu e outros "Antigos", seres imortais e malignos que dormem nas profundezas da Terra e dos oceanos, aguardando o momento para ressurgir.
A Loucura do Mar: Thurston investiga o diário do marinheiro Gustaf Johansen, o único sobrevivente de uma expedição que encontrou a cidade submersa de R'lyeh, onde Cthulhu estava adormecido. Durante a exploração o ser gigantesco desperta causando terror e desespero nos tripulantes e é temporariamente derrotado quando o navio de Johansen o atinge na cabeça, permitindo ao marinheiro fugir enquanto a cidade afunda novamente.
Johansen sobrevive à experiência e escreve seu relato, mas morre misteriosamente pouco tempo depois. Thurston chega à conclusão de que Cthulhu ainda está vivo e inevitavelmente voltará.
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Cem anos depois da publicação de Moby Dick, Ernest Hemingway terminou o livro "O Velho e O Mar", entregou para o seu editor e disse que era o máximo das suas capacidades como escritor.
Publicada em 1952 a obra narra a história de Santiago, um pescador cubano idoso, e sua luta épica contra um enorme marlin, ou peixe-agulha.
Santiago é um pescador experiente mas está passando por uma fase difícil: há 84 dias não consegue pescar nada e sua má sorte fez com que o jovem Manolín, seu aprendiz e amigo, fosse proibido pelos pais de continuar a pescaria com ele. Apesar das dificuldades, Manolín demonstra carinho e respeito pelo velho, ajudando-o com alimentos e encorajando-o.
Determinando-se a quebrar sua maré de azar, Santiago parte sozinho para o alto-mar e fisga um gigantesco peixe que puxa o seu barco por dois dias e duas noites. O velho luta bravamente sofrendo com dores nas mãos e no corpo, mas nunca perde a esperança. Finalmente, ele consegue matar o peixe ao cravar um arpão em seu coração e o amarra ao lado de seu barco e começa o retorno triunfante para casa.
No caminho de volta, tubarões são atraídos pelo sangue do peixe e apesar dos de Santiago para espantá-los, os tubarões acabam devorando toda a carne, deixando apenas o esqueleto preso ao barco.
Santiago se sente devastado, mas aceita sua derrota com dignidade e ao enfim chegar à praia, exausto e ferido, abandona o barco e volta para sua cabana, onde cai em sono profundo.
Na manhã seguinte, os pescadores e Manolín encontram o esqueleto do peixe amarrado ao barco e ficam impressionados com seu tamanho. Manolín comovido promete que voltará a pescar com ele, independentemente da má sorte.
Moby Dick, O Chamado de Cthulhu e O Velho e o Mar são livros que precisam ser lido duas vezes, um pela perspectiva de seus narradores e outra tentando imaginar o olhar das criaturas e o que elas pensariam sobre a obsessão, a curiosidade, e resiliência humana.
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Além das músicas e capas incríveis a banda Mastodon é fissurada por criaturas gigantescas e quase lendárias começando pelo próprio nome do grupo quanto em outra faixa do álbum Leviathan, Megalodon, ambos surgidos na mesma era das baleias, o mastodonte ancestral dos elefantes, e o megalodon parente dos tubarões, com sua respectivas presas e peso no caso do primeiro, e nadadeiras e dentes colossais no segundo.
Eu entendo perfeitamente, a música Seabeast sempre ecoa na minha mente quando trabalho embarcado e ainda este ano estávamos trabalhando perto da Laje de Santos quando a Melissa, uma jubarte adolescente, nos cercou só para mostrar o vestido novo.
A mais sociável e ao mesmo tempo a mais independente entre as mais de cem baleias da espécie que passam pelo litoral de São Paulo entre abril e novembro todos os anos, Melissa já foi vista brincando e interagindo ativamente com outras baleias, incluindo mães e filhas, algo muito raro pois baleias costumam interagir apenas entre grupos próximos, e já foi vista flertando e namorando sem acasalar.
Melissa é literalmente uma adolescente atrevida que fugiu de casa mas todo mundo gosta dela.
Exibida e atrasadinha da turma, na época do nosso encontro ela já deveria ter passado do rio de janeiro rumo ao norte mas é viciada em barco de madeira e em interagir com o pessoal, aí nós temos de desligar o motor, pegar a pipoca e assistir o show.
Quando uma baleia percebe que desligamos o motor ela entende como um convite para ficar brincando e logo a Melissa começou a saltar e nos rodear e nos deu três horas de canseira, simplesmente obstinada mas impossível reclamar, três horas olhando ela é sentir o tempo congelar e a vida passar mais lentamente e irmos embora com a sensação de termos visto ela por apenas alguns segundos.
Não sentimos pois o mar estava bastante agitado neste ponto mas ela provavelmente roçou no casco duas ou três vezes, com uma delicadeza inimaginável para um ser de mais de 30 toneladas, baleia gosta tanto de barco de madeira quanto vira-lata gosta de sentar na porta de restaurante, ela sabe que geralmente é barco de pesca ou seja, comida sem esforço e carinho garantidos.
Mais mágico foi a despedida quando ela deixa claro que já brincou e faz uma linha paralela com o barco, mantendo esta postura até ligarmos o motor e nos deslocarmos e então ela nos seguiu por mais meia hora e logo desapareceu na água, deixando saudades.
Pelas nossas conversas a Melissa representa uma nova geração de baleias, mostrando um comportamento evolutivo fruto da recuperação da espécie que estava quase em extinção com uma população de apenas 3.000 espécies poucas décadas atrás até as mais de 20.000 atuais, baleias sociáveis e independentes, enturmadas e ao mesmo tempo mais solitárias que o esperado, algo refletido até mesmo na vocalização modernizada e hábitos migratórios fora de época.
Melissa é uma adolescente sem tribo, que fala gírias novas e nada onde quiser, segue barcos, navios e balsas, conversa, toma um chop e vai embora sem olhar para trás
O mar é assim, cheio de lágrimas de Deus onde criaturas gigantes reais ou não emergem para nos assustar e encantar, habitar nossos sonhos e povoar nossos pesadelos, melissas, leviatãs, cthulhus, moby dicks, merlins, mastodons, megalodons e o maravilhoso diodon, singing their life with their roars, killing them softly with his swords.
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