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ENSAIO 89: TANATOSIS

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    LFMontag
  • há 10 horas
  • 7 min de leitura
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Foto: Montag


Se você está aqui pela primeira vez este ensaio faz parte de um livro sendo escrito em tempo real seguindo a narrativa do fluxo de consciência, se te interessar acompanhar o processo comece pelo primeiro.



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12/11/2025


TANATOSIS


É sobre gambás.


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Perguntaram para o criador do desenho Scooby-Doo por qual motivo no final de cada desenho os monstros, zumbis, fantasmas e assombrações eram sempre pessoas por trás das máscaras, se havia algum propósito específico ou mensagem, eele respondeu: Sim, a mensagem está bem clara, os verdadeiros monstros são os seres humanos.


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Tanatosis (do grego Thanatos, morte) é um comportamento de defesa observado em alguns animais e consiste em fingir-se de morto diante de uma ameaça.


Quando se sentem em perigo eles permanecem completamente imóveis, muitas vezes com o corpo relaxado e os olhos fechados, o que pode enganar predadores que preferem presas vivas, um comportamento comum em insetos, répteis e alguns mamíferos e serve como uma estratégia de sobrevivência eficiente em situações onde fugir ou lutar seria mais arriscado.


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Em 16 de março de 2008, centenas de adolescentes se reuniram nas ruas da Cidade do México, protagonizando um confronto bizarro e estranhamente cômico entre subculturas. A briga era entre punks e fãs do então recém popular estilo emo, após horas de ameaças e intervenção policial o conflito só chegou ao fim quando um grupo de monges Hare Krishna começou a desfilar repentinamente pela praça.


A Guerra Emo-Punk na verdade começou online em redes sociais como o MySpace, muitos emos reclamavam de estarem recebendo ameaças violentas e mensagens de seguidores punks, que os acusavam de roubar seu estilo e seus penteados.


No dia 16 de março os emos então decidiram organizar uma manifestação pacífica para defender a tolerância entre as subculturas mas, ao saber disso, os punks começaram a se organizar para uma manifestação violenta em resposta.


Os dois lados se enfrentaram em uma chuva de cintos com tachas, cabelos espetados e botas pesadas quando cem policiais foram chamados ao local, mas ninguém conseguiu conter a massa de adolescentes em briga mas de repente o som de tambores e cantos preencheu o ar e do nada um grupo de monges vestidos com túnicas desfilou pela praça central da cidade, interrompendo a confusão e a Guerra Emo-Punk de 2008 finalmente chegou ao fim, sem nenhum morto ou ferido registrado.


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A primeira vez que eu aprendi a pedir "por favor" foi por causa de um soco (ou tapa, não sei dizer, mas foi muito bem dado) na minha cara.


[SOMENTE LIVRO]


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A história tradicional da natureza é muitas vezes baseada na ideia original de Charles Darwin, a sobrevivência do mais apto, um quadro de competição incessante onde apenas os mais fortes sobrevivem.


Mas isso é apenas parte da verdade, um olhar mais profundo revela que o coração da natureza não é a guerra mas os relacionamentos, nas florestas, no fundo do mar e até dentro de nós, a vida prospera por meio da cooperação.


As árvores se comunicam e compartilham nutrientes através de redes subterrâneas de fungos chamadas de “wood wide web” (ou teias de madeira) e árvores mais velhas alimentam até mudas de outras espécies sob sua a sombra, garantindo a sobrevivência de toda a floresta.


Nos recifes de corais, peixes limpam outros peixes, aves alertam outras espécies sobre predadores e os ecossistemas se equilibram sozinhos através de redes de apoio mútuo.


E no seu corpo, agora mesmo, trilhões de microrganismos ajudam a digerir alimentos, combater doenças e regular o seu humor, nossos corpos são sinfonias infinitas de companheirismo, não campos de batalha.


Esse tema se reflete nas sabedorias ancestrais de civilizações antigas e cada vez mais na ciência atual, principalmente na ecologia: a vida não existe isoladamente mas em conexões intrincadas, ajuda mútua, reciprocidade e interdependência são os pilares secretos da resiliência e ver a natureza dessa forma nos faz sentir menos sozinhos, pois cooperação não é fraqueza, é força em harmonia.


Mas tão natural quanto a sinergia, a simbiose, o mutualismo, o comensalismo e toda sorte de harmonia que sentimos ao ver um pôr do sol no horizonte, uma noite estrelada, um mar calmo de manhã, existe a pulsão de morte.


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Uma das formas de tanatosis mais curiosas, e engraçadas, é chamada nos Estados Unidos de Playing Possum ou se fingir de gambá ou ainda, naturalmente em bom português, se fingir de morto.


Ao contrário da sociedade humana a natureza é sábia mesmo quando estúpida e, se não for um animal comedor de carniça, tende a rejeitar o que já está morto, algo não muito eficaz no caso de gambás pois em algum momento os humanos aprenderam a identificar e comem gambá do mesmo jeito.


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[SOMENTE LIVRO]


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[SOMENTE LIVRO]


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No quinto episódio da série The Bear, o confeiteiro Marcus tem uma conversa interessante com um corretor imobiliário, que parece ter uma visão mais positiva da vida.


Marcus pergunta:


- Sabe no que penso muito?


E a conversa segue:


- O quê?


- Quando uma casa é vendida, é sempre algo ruim.


- Acha mesmo?


- É, tipo…


- Ou é falta de grana, ou alguém morreu, ou é um divórcio, ou mudança.


- Mas também pode ser bom.


- Sei lá.


- As pessoas têm filhos, se casam, ganham grana, querem comprar algo.


- Nunca pensei nisso.


- Eu sei, é que eu sou sábio, por isso é uma mudança, é seguir em frente.


- Mas o que nenhum deles fala ou parece pensar, é que, vendida ou não, uma casa precisa ser antes de tudo um lar, se ela não for, a rua vai ser o seu único teto.


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Uma coisa não tão engraçada sobre pulsão de morte é que ela é imensamente prazerosa, quem já teve o azar e a infelicidade de presenciar, participar ou até mesmo fugir de uma briga da rua conhece bem o sentimento: O coração acelera, as mãos suam e o estômago vira enquanto o cortisol e a adrenalina preparam o corpo e quando a briga estoura vem o pico de adrenalina e noradrenalina; o foco se estreita, os reflexos disparam, e a testosterona empurra para a agressividade e ação, com a dor quase inexistente no calor do momento.


A luta então vira um borrão de impulso e sobrevivência, enquanto a dopamina começa a trabalhar nos bastidores, alimentando a expectativa de vitória.


Se você vence o alívio e a euforia explodem junto com a dopamina, testosterona e endorfina, trazendo sensação de poder, domínio e até um riso nervoso no pós luta.


Mas se a derrota vem, a queda é dura: o cortisol sobe mais, a dopamina desce, a vergonha queima por dentro, o replay negativo na cabeça faz a testosterona descer mais ainda, e então a frustração.


Mas nas horas seguintes e independente do resultado vem a exaustão, a tremedeira tardia e o corpo drenado, enquanto o sistema inteiro tenta se reequilibrar e a cabeça segue revivendo cada segundo, seja orgulho ou arrependimento.


A melancolia.


Uma melancolia tal qual olhar estrelas e estrelas cadentes a noite inteira e tentar entendê-las.


E se elas forem explosões, mísseis e destroços caídos de um universo que também está em guerra?

E se forem mísseis de um universo que cansou de nós e declarou guerra contra o nosso planeta?


Também melancólica, e muito deslocada, é feita pelo personagem Romero em Spy Kids 2: Você acha que Deus fica no céu porque ele também está com medo daquilo que criou?


Eu me pergunto, e se a atmosfera for um grande iron dome que nós construímos para nos defender de um Deus que não só tem medo de nós, como declarou guerra contra os humanos?


Se tudo o que vai, volta, estaríamos nós deslocados no universo?


Estrelas cadentes são melancólicas, iron dome é melancólico.

Guerra é melancólica, destruição sob demanda, é melancólica.


Ouroboros, é melancólico.


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[SOMENTE LIVRO]


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Provavelmente tudo culpa da virgindade e sim, do Metallica, porque no final do dia, nothing else matters.


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Cápsulas papagaiadas exorcizadas no subsolo entupidas do tempo.


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Cinco papagaios cinzentos chamaram atenção no Lincolnshire Wildlife Park, no Reino Unido, após começarem a xingar os visitantes e rir juntos das reações.


Os pássaros — Billy, Eric, Tyson, Jade e Elsie — chegaram ao zoológico em agosto de 2020 e foram colocados em quarentena e nesse período passaram a repetir palavrões e a encorajar uns aos outros como se estivessem em uma roda de amigos se divertindo.


O público até achou engraçado no início, mas havia uma preocupação: o zoológico recebe muitas famílias, incluindo crianças, e o vocabulário dos papagaios não era exatamente o mais adequado para o ambiente.


Segundo o diretor do parque, a situação se tornou ainda mais curiosa porque, sempre que um deles falava um palavrão, os outros caíam na gargalhada e isso fez com que continuassem repetindo as ofensas em um ciclo quase interminável de risadas e xingamentos.


Para evitar que a cena se transformasse em um show impróprio para alguns visitantes a direção decidiu separar os papagaios em diferentes áreas do parque e tentar diminuir a influência mútua e dar tempo para que cada um retomasse comportamentos mais tranquilos.


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Uma moradora afirmou estar processando a gaiola humana onde vive por se recusar a utilizar a vaga de garagem o subsolo do prédio.


Segundo ela, estacionar abaixo da terra fere suas convicções religiosas como cristã, segundo suas palavras:


- Para quem não sabe, o subsolo está debaixo da terra. E eu, como cristã, jamais aceitaria na minha vida uma vaga no subsolo.


A cristã em questão reside no 19º andar, não sei se por causa de algum salmo específico.


A mulher contou ainda que tentou negociar com vizinhos para conseguir uma vaga no térreo ou em um andar mais elevado, mas ninguém aceitou a troca, e também afirmou que a disputa está em briga judicial há mais de nove meses e que chegou a pedir orientação ao pastor de sua igreja.


O pastor prometeu orar por ela.


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E no submundo mais conhecido como Rio de Janeiro a concessionária Águas do Rio está entupindo as saídas de esgoto de edifícios que devem contas de água, deixando que os dejetos dos prédios se acumulem e vazem portarias afora, além disso a concessionária vem cobrando esgoto por estimativa, o que não é permitido por lei.


O tamponamento dos esgotos é feito com a colocação de uma espécie de rolha plástica inflada dentro do cano e com isso o esgoto não passa e se acumula dentro dos prédios.


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